Com olhar o mundo por um filtro que eu tinha desde muito pequena, mas que depois materializou-se em palavra.
+ Como você era antes da poesia?
Posso dizer depois de assumir que faço poesia...porque elas já existiam antes que o mundo soubesse que eu as cometia: era a mesma, mais nova e sem a alcunha de poeta.
+ Quem você é depois dela?
Agora é que são elas: posso dizer de um “antes e depois da poesia” em falando da cena dos saraus, dos livros independentes, dos slams, de conviver com outros poetas contemporâneos, quando a palavra tornou-se ação e movimento – e é aí que a coisa muda de figura. Estar nesse rolê legitimou minha escrita, que considerava antes meros devaneios, me fez desenvolver um trabalho paralelo do qual me orgulho e para o qual me dedico, e me proveu de coragem para escrever como ofício, essa paixão maior. Sem a qual me desconheço: sou toda palavra.
POESIA
ALVENARIA
A mulher forte
tem colunas construídas com vigas
de ovário. tem os dedos em pregos
o intestino azedo a cara fechada
a racha aberta
em se aprofundando em
ela. vai encontrar os pavimentos
em ruínas. a coluna em frangalhos
um choro ruindo sobre seus tijolos
de teta e anca. esses fundamentos
frágeis por sobre a imagem
[da mulher forte
e a mulher chora doída
sua força cansada
de parecer.
Michele Santos
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