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Entrevistas

TRANSFORMAÇÃO
A poesia transforma...
Por isso, estamos fazendo pequenas entrevistas com poetas sobre o tema.
São apenas três perguntas
Como a poesia chegou na sua vida?
Como você era antes da poesia?
Quem é você depois da poesia?
As respostas serão publicadas em  nosso site www.versoemversos.com.br



Como a poesia chegou na sua vida?

Eu componho antes de ler um livro de poesias, porém me lembro que, no caso da poesia enquanto estrutura de texto literário, havia em casa uma antologia poética da Cecília Meireles (que fui conseguir ler e entender o conteúdo bem depois de fazer minha primeira letra da música), e também por meio das aulas de português com análises de letras de músicas brasileiras da época da ditadura militar, por exemplo. 


Como você era antes da poesia?

Antes de ser uma pessoa que declama e canta minha poesia, eu era uma pessoa com depressão, com muita dificuldade em pertencer ou de sentir sentimentos de acolhimento. quando passo a expressar publicamente minha composição, até então discreta, me reconecto com o que entendo de mais belo e ancestral na minha vivência. 

Créditos da foto Nereu Jr.

Quem é você depois da poesia?

Segundo Nego Bispo, não há fim, e sim começo meio e começo, daí que entendo que a poesia vive em mim um durante. Então sou com ela. E durante minha poesia, sou verdadeira, confiante e em êxtase da dignidade que acontece quando estou em performance. Minha composição pede dignidade, logo cantá-la é sempre uma realização. 

Yurungai




 Irawó

Como a poesia chegou na sua vida?

A Poesia chegou em mim através do Sarau do Capão e, a partir dali, eu entendi que o que eu escrevia era algo. E criado uma certa coragem para expressar aquilo de forma falada, eu já escrevia como forma de refúgio, pois amigos já haviam me falado muito sobre desenvolver e ir para além da escrita com aqueles desabafos; mas eu ainda não frequentava tantos espaços. Após frequentar o Sarau da ponte pra cá e o Sarau do Capão conheci o Slam do 13 e mergulhei na cena do Slam. Entretanto não busco ser uma competidora em si, porque acredito em potencializar poetas em espaços maiores tendo o devido reconhecimento e fomentos necessários para a cena crescer.

Como você era antes da poesia?

Bom! Eu era uma adolescente bem perdidona, querendo ser algo que já eram em vez de ser eu mesma.

Quem é você depois da poesia?

Hoje eu busco sempre ter minha personalidade regada, buscando sempre fazer diferente e trazer isso muitas vezes por meio da oralidade.


Poesia


Pretona Dengosa


Eu sei é mow fita como as coisas rolam e acontecem
E de verdade 
Jamais achei que hoje estaria assim

Não é só sobre forma que estou
De ter auto estima ou orgulho
Até por que isso a 10 anos atrás era impossível

Desacreditava de qualquer possibilidade
De me achar bonita
De me achar desejável
De achar que 
Pessoas poderiam gostar até mesmo da minha personalidade

E eu era modelo parsa

E é foda porque é onde você vê
Que o padrão de beleza não é você
E o que faz com a mente de pessoas negras

É só outra armadilha
tu pisa, te machuca mas tu não consegue sair

Eu não só me via longe daquilo
Longe do “perfeito”
Mas longe de encontrar o básico


De ter uma casa

De ter carinho
De ter meu sustento
De ter respeito
Eu Nem queria ser algo

Quando eu perdi a virgindade por exemplo
Não foi algo que eu quis fazer
E que eu sentir prazer com isso

Foi algo que tiraram de mim
Mesmo depois de eu falar “não quero fazer isso”

Pensar que isso poderia ser um gostar
Não um estupro como fica mais nítido a cada dia

E Chegar a voltar 
A pensar que se ele quer eu tenho que aproveitar
Pois ninguém mais vai querer
Neguinha preta ? Difícil alguém ver beleza
Como é que eu iria ver?

Se Entende esse lugar ?
Não existe outra possibilidade além daquela
Então aceite !
Por mais horrível que você se sinta, por mais dor que você sustente
As vezes é só isso que se merece

Claro que
O que eu deseja tava longe do que eu queria
Ou longe de me desejar
Mas eles sabiam que existia sim 
A Beleza

Eai teve o momento
Que o que eu queria me quis também
E Nesse mesmo sentido de desejo
Eu me entreguei

Entreguei tudo achando que seria o suficiente

Que renderia algo bom
Tudo que ele queria eu dava
E eu só dei
Dei pra não receber nada

Dei tanto que esqueci que eu era um ser aqui
Dei tanto que deixei de existir
Eu não só me perdi
Eu desisti
E desisti de ser digna do básico

Procurei durante muito tempo esse afeto na rua 
Mesmo achando que não era pra mim
Eu demorei pra encontrar esse afeto que só vem de si mesmo
De encontrar beleza
De colocar limites nas relações pra não me defasar novamente

Mas encontrei perdido na trilha
Algo que ninguém mais poderia me dar
Só a natureza poderia fazer eu enxergar
O quanto cada detalhe em mim é importante

Onde além da beleza externa
Mas amar aquela parte do corpo que você detesta
E amar ela do jeitinho que ela é
Esse amor verdadeiro que não vem com beijo
Mas você pode sim
Se beijar

Esse amor que vem e fica impossível alguém conseguir tirar
Esse amor de verdade que faz com que você não aceite migalhas
Eu desejo ele pra ti mulher preta
Todo cuidado e carinho que esse amor pode proporcionar

Ele pode vir assim como achado que tu perdeu
E quando ele te encontrar faz grandes mudanças
Traz o conforto que tu pensou que perdeu

Desejo pra ti mulher
Esse amor
Esse desejo

Ama te até seu cheiro
Teu gosto
Teu gozo
Teu gemido

E assim tu se chamega e se ama
Encontrando e dando valor para quem te desejar para além da cama
Esse amor
Eu Te amo, Pretona !


Irawó



Mauro Avoz

 Mauro Avoz, o Cocão, é um Raper da zona Sul de São Paulo, e um ouvinte aprendiz das letras cortantes do Rap nacional dos anos 1990. É autor do livro “Pra não dizer que não falei das ruas” e integrante do grupo de Rap Versão Popular.


Como a poesia chegou na sua vida?

A poesia chegou a mim, através do rap; mas nesse início eu não entendia que o Rap era, Ritmo e Poesia, com o tempo, por conhecer a Cooperifa e perceber a lírica entre muitos poetas que ali recitavam eu pude entender.

Como você era antes da poesia?

Na minha adolescência, antes da arte e pra ser mais preciso a poesia, eu não via muita esperança nas pessoas e muito menos na vida, a poesia chegou pra dar um rumo, uma estrada, um norte para meus sonhos e pensamentos.

Quem é você depois da poesia?

Creio que um cara mais observador, questionador, e com vontade e gana por trabalhar com a arte, também entendendo como é a vida na real.


De volta pra casa

De Volta Pra Casa (Cocão Avoz)

Missão cumprida, baby, minha quebrada me espera
Amor ao rap, é os prédio, a semente é a terra
Antigas ruas em guerra, onde o respeito se eleva
Visto a camisa, vem vê, vozes que gritam por ela

Pelos parques sem flores, pelos versos e amores
Tudo de bom eu desejo, e que sumam as dores
Senhoras e senhores, poetas e cantores
O grafite e suas cores, o universo e os mentores

Em cada um o Dom, dançar conforme o som
De volta pra casa, eu me renovo sangue bom
Os bons amigos são, os que estão, estão
Sinceros, felizes, a esperar de prontidão

O amor de mãe, e também do pai
Eu sei o que eles sentem quando o seu filho vai
Em missão, em luta, mundo afora e sem ajuda
É a vida pelo sonho, e você sabe quando muda

A música, a rima, a palavra é auto estima
Por mais que vocês fuja, ela persegue, é a sina
Noite adentro é o clima, lágrimas na retina
Recordar é viver, a função de esquina

Mais de uma década, amém, vou no caminho do bem
Eu entendi, tô aqui, és uma história também
Eu vou levando a sério, desde o início sem cena
Nós já vivemos em crise, eu já cantei os problema, vai…

De volta pra casa
De volta pra casa
De volta pra casa (eu tô de volta)
De volta pra casa
De volta pra casa

Pelo rap, a poesia, olha nós, ó quem diria
Das noites mal dormidas, retorno a luz do dia
Chove, chuva, e a mão na massa, vamos
Dixavando escrita, profissão que nós amamos

Pra quem bolou os planos, na fuga pelos canos
A plenos pulmões, eis o grito de mil manos
Eis a liberdade, eis as luzes da cidade
Sentido bairro, olha o foco, malandragem

O amor não vê miragem, tá na pele a tatuagem
Deixa os moleque, é só fumaça sobre a laje
Libertaram Barrabás, gente muda pela paz
Luto e tumulto, hoje luto e quero mais

Ir e vir e viajar, com a bela a beira mar
Eu, de cabelos brancos, só histórias pra contar
Penso, eu já pensei, mas um dia eu já fui rei
Nos contos de quebrada, eu nada sou, eu nada sei

Chapeleiro deixou brécha, moscou, dormiu na festa
Eu não posso esperar, pois hoje eu tenho pressa
São Paulo é ferveção, verão é multidão
Olhares furam lupa, é a multa, o arrastão

De perto, de longe, meditando tipo os monge
Da li eu vejo tudo pra não sumir no monte
Feras e ferido, vítima dos inimigo
Negros da maratona se parecem comigo

De volta pra casa
De volta pra casa
De volta pra casa (eu tô de volta)
De volta pra casa
De volta pra casa


     +++++
  • Diogo Silva
  • Como a poesia surgiu na sua vida?
    A poesia surgiu como fantasmas nas ruas, vinha um monte de frase na cabeça, provocava uma euforia ao mesmo tempo eu acha que era loucura e tudo se resolveu quando comecei a colocar pra fora com papel e caneta.

    Como você era antes da poesia?
    Eu vivia no mundo da fantasia, aquele monte de palavra solta na cabeça que surgia não sei da onde, aparecia na escola, no banho, em casa, na rua. Me fazia esquecer de tudo, era muito destraido.

    Quem você é depois dela?
    Antes eu achava que poesia era só romance, escrever coisas bonitas, cartinha pra namorada. Então eu achava que não sabia fazer, até descobrir o rap, poesia urbana, foi onde me encontrei e aí começou a transformação. Hoje me sinto forte intelectualmente, tenho fome de conhecimento, tenho interesse pela leitura, construo e realizo meus sonhos.

    Poesia

    Poesia dias de primavera
    Mudança de estação, está um dia bonito mas está frio, primavera.
    A fresta de luz entra pela varanda em minha janela, toca minha pele, me tira um sorriso.
    As pessoas saem de casa como livros empoeirados, precisando contar suas histórias, sentir o tato, para uns difícil para outros fácil, depende da hora, beija flor só voa fora gaiola.

    Amantes amargos nem sempre conquistados, empurram do décimo andar o coração para fora, em um canto calado por entre os lábios suspiros de sons a procura das notas,que dançam, entrelaçadas em um translado abstrato ninguém pega, assim como o tempo, tudo passa, amadurece e revela, assim mantenho meus sonhos sentindo os pequenos raios solares de um dia de primavera.
Como a poesia surgiu na sua vida?
Surgiu no Sarau da Cooperifa. Descobri o sarau em uma reportagem. Eu já me interessava por textos da literatura marginal conhecia autores de prosa e dramaturgia como Ferréz e Plínio Marcos, mas não conhecia nenhum poeta da qual tivesse me tocado profundamente.
Como você era antes da poesia?

Eu frequentava outros círculos. Com a poesia passei a circular mais pela cidade, conheci muitas pessoas, fiz amizades e parcerias.

Quem você é depois dela?
Hoje me considero um artista depois do descobrimento da poesia. Uma pessoa que escreve poesia, que escuta poesia que lê poesia que pesquisa poesia. Não sou exclusivamente poeta, mas estou poeta e isto é grande.
Blog http://emersonalcalde.blogspot.com

POESIA

Dinonísio no Cu-rriculo

Na sala me embriago com as teorias de Aristóteles
No bar me concentro na lógica de cada gole
Um Engov. Ópis, ops, o telefone, meu irmão Karamazov
Fiquei imóvel como os personagens de Tchecov. Saio do balcão meio maria-mole
Nos corredores os autores ébrios escrevendo sobre o cereal killer com chá, granola, caipora, a espanhola corrobora com Zola é natural naturalista a boemia o fogo paulista
com a coordenação somos épicos-brechtianos
com a atuação; românticos
com a direção; dramáticos
e assim vamos experimentando as bebidas as tomadas as comidas
Viajo nas leituras me dá tontura. No intervalo vou à rua tomado pela loucura de Hera direto pro boteco do Tiozinho Vânia. Já é primavera tempo da colheita da uva e de filosofar na alcova e imaginar as humoristas nuas sem cenários e figurinos representando a Escola de mulheres e maridos de Molière!
Mulher, como tem gente que não gosta, Molière?
Volto a aula pra expurgar o experimento, Evoé!
Pausa longa o aprendiz entra na ponta dos pés, no escuro, ta rolando um vídeo do Tarkovisk e o filme é;
A Infância de Ivan
Um garotinho magrinho e corajoso e hoje um bom vivã
Vou ser realista bebi mais do que eu li. E ninguém vai apagar a memória da cana de Newton porque ta na física e na construção da personagem simbolista o rei e a meretriz. Sonhei que tava indo com a Cléo pra Paris num palco giratório e as satyrianas em volta encenando o bacanal; vinhos; ervas; frutas; massas; Foi surreal. To lendo o Cerejal e vendo gaivotas e do outro lado da praça a Fedra travestida colorida com o Cabral. É uma difusão sexual! Essa usina é uma grande feira tem até freira, loucos, cegos e macumbeiras. Um território multicultural. Que escola pós-moderna que serra e martela, incorporou Dionísio no nosso CUrrículo do bode de rabo de galo é o falo neste pátio aberto vamos, em coro, os duzentos, fazer um brinde ao saudoso Alberto Guzik.
Evoé!!!
Emerson Alcalde` +++
  • Edinho
  • Como a poesia chegou na sua vida?
    Nossa estou apaixonado poesia me faz mudança a vida é consegue influência pensamento pq minha tema não tem como igual outros poesias , isso quero mudar sociedade ensinar como tá difícil a vida comunidade surdo

    Como você era antes da poesia? 
    Como eu era antes da poesia? Eu não tinha interesse poesia quando abriu slam do corpo e zap  comecei ir ver me inspira muito e descobri muita que posso mostrar sociedade a minha poesia

    Como você era depois da poesia?
    Sou poeta, artista e militante
    Poesia que Limpa a alma e abre a mente

    +++++ 
  •  Jairo Periafricania
  • + Como a poesia surgiu na sua vida?
    A poesia surgiu em minha vida quando a muito tempo atrás o Binho me chamou pra um sarau que ele organizava ali no bar dele ao lado da antiga Uniban. Eu não tinha o hábito da escrita nem da leitura até então.
    Fiz uma poesia do Sergio Vaz que aliás tbm não o conhecia. Ganhei uma camiseta de presente de um amigo Ronaldo o nome dele que tinha um poema do Sergio Vaz, recitei e dei os créditos ao autor e pra minha surpresa o Sergio estava lá e a partir daí ouvindo os poetas com seus poemas autorais despertou o interesse em compor tbm... nesse mesmo dia fui convidado pra conhecer o sarau da Cooperifa e não sai mais e escrevo desde então.

    + Como você era antes da poesia?
    Antes da poesia eu levava a vida de uma forma totalmente diferente de hoje com certeza.
    Taxista de ofício eu sempre ali no meu dia a dia nas idas e vindas, conversando com os amigos sobre política, futebol, trabalho, etc... com todo respeito eu era totalmente alienado, até porque não lia e só enxergava a um palmo de distância, eu não tinha noção de nada... ouvindo os poetas fiquei interessado em personagens que votavam em seus textos e fui pesquisar, conversar... hoje olhando antes da poesia da literatura eu vejo o quanto estava moscando, é tipo como se eu vivesse antes do fogo e depois do fogo... virada drástica.
    Hoje qiestiono tudo, antes vinha tudo pronto e eu meio que aceitava...

    + Quem você é depois dela
    Depois disso eu estou sempre procurando descobrir, questionando tudo, meus bates papos mudaram, já não abraço certas idéias que vem de todos os lados, de políticos, da imprensa escrita, televisiva, nas redes sociais etc.
    Tenho sede por respostas até porque tenho muitas perguntas.
    Mano mudou tudo, da água pro vinho é muito louco tudo isso, até acho que por conta dessa mudança minha postura mudou, essas coisas trazem mais responsabilidades, revolta, inquietude, quando você adquire certo discernimento sobre certas situações muda tudo.
    Pra finalizar aqui vou reproduzir uma frase, um pensamento que ouvi do Sergio Vaz que aliás disse até de quem é esse pensamento mas não me lembro o nome do autor, é mais ou menos assim:
    "NÃO QUERO ACREDITAR SÓ QUERO SABER"

    Poesia 

    UM POEMA

    Insônia loucura um delírio só meu
    Insana a caneta desliza... Eu,
    TE OFEREÇO UM POEMA...
    TE OFEREÇO UM POEMA...

    Um poema,
    Rasga carne sangra dor brinda vida
    cura amor
    Tá na multidão que o rap arrasto
    Na voz no furor que Racionais canto
    Nas paginas dum livro que o poeta eternizo

    Nas negras raízes no conto do grio
    No canto sagrado que uma tribo entoo
    É canta a liberdade pra quem tá confinado
    No povo unido caminhando lado a lado

    No raro d'javu loucura insensatez
    Onde os forte sobrevive os fraco não tem vez
    É o ser ou não ser... eis a questão
    É respeitar a opção da irmã do irmão

    Do jeito que quise bem me que mal me que
    No drible na ginga no grito de olé
    É pai filho pro espírito é santo
    Nos muros becos em todos os cantos

    No sorriso no pranto no trago no gole
    Na dor no peso da ressaca do porre
    Na escrita perdida num velho pergaminho
    E agora José? São as pedras no caminho.

    Insônia loucura um delírio só meu
    Insana a caneta desliza... Eu,
    TE OFEREÇO UM POEMA...
    TE OFEREÇO UM POEMA

    Na imensa solidão daquele na sargeta
    Naquele rascunho esquecido na gaveta
    Nas entrelinhas no subliminar
    Nas metáforas que a vida não cansa de ensinar

    No mistério da morte no enigma de marte
    Num beijo roubado imitando a arte
    Na frase sem crase no verso sem métrica
    É Usa abusa da licença poética

    Nóis fomo, nois vai, eu vi ela tanto faiz
    Sem menos nem mais somos todos iguais
    Na prosa a rima na trova o verso
    Do nosso jeito simples complexo

    Erudito popular entre o bem e o mal
    La pra academia é um ser imortal
    Aqui a poesia desfila no sarau
    Cortejada por amantes etc e tal

    Moro na moral é isso memo o papo é reto
    Num mundo a parte é o nosso dialeto
    A palavra escrita na canção que embala
    Hey norma culta, se não entende!
    Pisiu! Se cala.

    Insônia loucura um delírio só meu
    Insana a caneta desliza... Eu,
    TE OFEREÇO UM POEMA
    TE OFEREÇO UM POEMA

    Jairo Periafricania 
    + Como a poesia surgiu na sua vida?
A poesia sempre esteve presente na minha vida seja pela curiosidade em folhear ainda na infância os livros de minha mãe, ouvir as histórias de minha avó materna e dos mais velhos, pela viagem e apreciação com as palavras e letras de músicas ou pela forma subjetiva de falar de mim mesma para outros já que sempre me neguei a partilhar minhas angústias.  A poesia sempre esteve ali na minha fala e anunciava-se naturalmente em algumas conversas. Até o dia que por não partilhar minhas dores minha mãe disse escreve e depois rasga, mas eu nunca rasguei.

+ Como você era antes da poesia?
Eu era uma voz sufocada no peito, com muitos versos a fim de caminharem por aí. Eu era uma fuga de mim mesma e dos meus olhares sobre o mundo, pessoas e sentimentos. Eu era o que me negava ser, até que me rendi aos versos superando a dor e a timidez de escrevê-los e me permitindo conhecer o lado encantador, árduo, trabalhoso, mas indescritível , saboroso e libertador que é escrever, torna-se poesia.

+ Quem você é depois dela?
 Há um micropoema meu que traduz exatamente esse sentimento. Do verso ela fez seu grito mais forte e a parte mais bonita de si. A poesia hoje é tudo  em dia na minha vida. É ela que vêm regendo meu mundo, meus dias e caminhos desde 2014. Não há um passo que eu dê sem a magnifica presença de respira-la na minha vida, me descobrir uma mulher inteira, liberta e mais forte sem perder a delicadeza no grito dos versos. Hoje sou a professora-poeta, a organizadora de um sarau na minha cidade e de intervenções em sala de aula com saraus e uma das vozes que vêm ecoando fortemente pelo recôncavo baiano e convocando ao voo várias outras mulheres. Hoje eu sou o melhor de mim graças à poesia.


 
POESIA

Crespo
Nada de bombril!
Meu cabelo não é esponja de aço
É crespo, moço!!!
É crespo, moça !!!
Não custa falar
Aprenda a nomear, a respeitar
A minha diferença da sua
Os meus cachinhos miudinhos, enroladinhos
da raiz as pontas
Crescendo pro alto, volumoso e hidratado
Enquanto você fica aí o julgando de ressecado,
Apelidando de duro e descendo o esculacho
No jato d’água ela escorre e deixa meus cachinhos mais amostrados
Quando seca ele é pura beleza no estilo armado
Olhando no espelho, moço
Olhando no espelho, moça
Meu black reflete minha identidade
Mulher naturalmente bela
sem a necessidade constante
de uma maquiagem. 
    (Jacquinha Nogueira)
+ Como a poesia surgiu na sua vida?
Através do sarau OqueDizemOsUmbigos em 2009 e me apaixonei em escrever e acreditar no que escrevia através de Daniel Marques, que foi e  é meu mestre da poesia.

+ Como você era antes da poesia?
Eu era apenas atriz, mas sentia que faltava algo no qual a poesia me completou
Era uma menina insegura e com medo de expor o que sentia

+ Quem você é depois dela?
Sou atriz, sou poeta, sou cenopoeta, desenvolvi um ciclo de oficina de poesia e cenopoesia, que é quase exclusivo, isso graças à 15 anos de teatro e 8 anos na poesia.
Viajei alguns países com meu trabalho de poesia.
Sou aquilo que sempre gostaria de ser

Poesia

Vão
Ele se foi como uma faca afiada que por erro não pode cortar
Se foi em vão, deixou um vão em meu pensamento
Carregou cada pedaço de seu corpo que pousava em mim
Como um dia estranho, nada feliz, nada triste
ele se foi
E desta vez sem deixar a chave escondida no vasinho de flores.
Como eu gostaria que existisse e pudesse transferir o amor que tinha por você, pra primeira pessoa que passasse na rua
Perdi o amor que sempre desejei
Perdi a conchinha de madrugada
Perdi teus dedos frios no meu corpo quente
Tua língua macia desenhando meu corpo
Perdi teu cheiro
Perdi aquele olhar nas manhãs que fazíamos amor
Perdi
Mas ganhei
Ganhei minha voz perdida em teu julgamento
Ganhei a chave das algemas e que não florescia
Ganhei novos olhares
Ganhei muitos desejos
Ganhei a vida que queria ter tido com você
Ganhei eu, novamente

Ganhos e perdas que hoje me fazem entender a vida
Mas que eu posso escolher o que entra e sai deste ciclo sem fim
    Como a poesia surgiu na sua vida?
    A poesia surgiu com as rimas, eu não tinha amigos aos 6 anos, e daí aprendi rimar antes de aprender ler e escrever. Quando eu entrei na escola e aprendi ler e escrever comecei a conhecer melhor o som e tom das palavras e enriqueci o meu vocabulário. Quando eu tinha algum problema eu não conseguia desabafar com ninguém, nem na escola e nem em casa. E um dia vi um livro de poesias e vi que nas estrofes tinham os versos e os versos contia rimas. Daí eu trocava ideia comigo mesmo, a primeira estrofe rimando eu falava sobre os meus problemas, a segunda eu fingia que era alguém de fora e tentava resolver os meus problemas, e por aí vai. A poesia desde criança para mim é como se fosse um corte, não rasga a pele, mas você precisa ver como fica a nossa alma quando colocamos para fora todas as coisas boas e ruins que sentimos.

    Quase fui jogador de futebol, e por necessidade tive que parar de estudar aos quinze para chegar no horário correto no clube que eu jogava, machuquei o meu joelho e o clube não quis pagar a minha cirurgia, dai tentei voltar a estudar, mas não consegui vaga em nenhuma escola do Grajaú. Só voltei a estudar com 21 anos, fazendo o EJA, a suplência. Lá, uma vez fui zoado por estar escrevendo poesias, daí levantei e falei uma poesia para todos, uns gostaram outros não, mas o importante foi o respeito. Conheci a que é hoje minha madrinha na arte, Maria Vilani, e ela me apresentou o centro de Arte e Promoção Social. Em uma roda de poesia mostrei meus textos, que chamou a atenção de um filósofo chamado Cesar Mendes da Costa, que tem uma editora no parque Sto Antonio e apostou em mim, publicando o meu primeiro livro, o "Felicidade Brasileira". O resto muitos ja sabem da história, surgiu o poeta Márcio Ricardo.

    +Como você era antes da poesia?
    Acho que a poesia sempre foi o melhor dos ouvidos, no papel e caneta eu podia gritar, e falar e falar (escrever), que ninguém nunca iria me julgar, me cortar...
    Porém o ser humano é muito invisível para a sociedade, e eu não era diferente.

    Quem você é depois dela?
    Hoje eu sou amigo e conheço grandes escritoras e escritores, pessoas que me representam e representam os meus, os nossos. Pessoas que eu olho para o lado e digo: "Não tô só".
    A poesia é um grito, e hoje eu agradeço tudo que sou e o que ainda posso ser graças a ela.

    Pra quem nasceu dentro de uma viatura, sem forças para chorar, e depois ser adotado e passar por tudo que passei até hoje, é uma conquista poder escrever uns versos, e quando alguém me ouvi, é um pedaço do paraíso, e não digo que é por ego, e sim por merecimento de uma linga estrada de quase 28
     anos.

     
    ++++ 

 
+ Como a poesia surgiu na sua vida?
A poesia surgiu nas cantigas de coro e palmas dos terreiros de umbanda, no olhar atento  da versação da capoeira, no ouvido atento das histórias do nego veio no buteco, e no incentivo da mulecada em escrever cartinhas de amor pras paquerinhas deles na escola

+ Como você era antes da poesia?
Um menino que revoava sonhos com um par de chuteira nas mãos, e que canalizava jogar ao lado de Amoroso, Djalminha no Guarani, fazer dupla de zaga com Juan no Flamengo. No meio disso, trampava na feira, no mercadinho, lombando escadas pra instalar telefone nas quebradas afora.  Ah também era (e ainda sou) caminhante noturno.

+ Quem você é depois dela?
Continuo canalizando ser jogador de futebol e viajar o mundo (agora) com as asas da palavras.  Hoje faz mais sentido conversar com o sol e a lua, do que fritar pelas injustiças do mundo, isso me deixa doente. Um copo de agua, bebido na moralzinha, me diz melhor o que fazer nesses caminhos de belas encruzilhadas. Dias atrás, não tinha expectativa de chegar nem aos 30 anos, então o que posso fazer de melhor hoje é agradecer

    ++++ 
Como a poesia surgiu na sua vida?
A poesia surgiu antes de eu imaginar que tantos desabafos eram.na verdade poesia. Na adolescência.

Como você era antes da poesia?
Antes da.poesia era um nó na garganta.

Quem você é depois dela?
Depois dela sou tudo, através dela me transformo todo dia.








POEMA

"Por cima da cama
Dois corpos suados, o extasiados,  nus.
Por dentro dos olhos um sorriso,  nós,  luz.
De todos os gritos,  sussurros e gemidos também teve blues. "

      +++++
  • Tiago Luiz
  • Como a poesia chegou na sua vida?

    Faço poesia desde meus dezoito anos, ou seja, a dezessete anos. Comecei quando conheci a posse Zumbi dos Palmares em 2002, lá na cidade que nasci em Juiz de Fora, Minas Gerais. Meus primeiros versos foram nas escritas que fiz como Mc, cantando rap e de lá para cá nunca mais parei.

    Como você era antes da poesia? 

    Antes da poesia, eu não fazia uma reflexão mais apurada dos fatos como hoje. A poesia me trouxe uma visão mais sensível e crítica da realidade por onde trânsito.

    Quem é você depois da poesia?

    Sou uma pessoa mais sensível, que vê em tudo motivo para escrever, registrar, mostrar o mundo nessa ótica. Não me vejo hoje mais sem viver o universo da poesia, ela me transformou num ser humano pleno, que observa a vida com um olhar além, que sente em tudo poesia.


    Contra Redução

    Os meninos são função.
    Os meninos são fundão.
    Para os meninos falta;
    Saúde, escola, falta o pão.

    Para muitos são bandidos.
    Os sonhos dos meninos?
    Um caderno, um castelo,
    Um abraço um coração..

    Cheio de amor, cheio de
    compreensão, os meninos
    São disposição, mas pros
    Meninos  o que sobra é..

    A camisa 10, titular na
    Lojinha da biqueira...
    Antes brincavam de
     Estilingue vulgo atiradeira.

    Hoje os meninos são
    Contadores, não de histórias.
    Contam cifras, num sistema;
    Neo liberalista, que explicita.

    A vida dos meninos,
    Como se fossem terroristas.
    Mas o terror é ver jovens,
    Virando estatísticas numa
    Sociedade que insiste colocar...

    Neles a culpa, 500 anos
     Passaram, antes os meninos
    Eram filhos dos quilombos.
    Hoje são crias dos escombros.

    Aprendem a caminhar,
    Aprendem a atirar mas
    Para os meninos aprender
    A amar é um contravenção.

    Como já disse o poeta
    Coração de vagabundo,
    Bate na sola do pé os
    Meninos aprenderam..

    A dar o Pelé, no capitão!
    Não o do Mato, sim o da
    Rota que ganha medalha,
    De honra quando mata...

    O menino numa quebrada
    qualquer e bate no peito
    Dizendo; mais um
    Vagabundo, esse foi morar...

    No inferno, mas você já
    Se perguntou e os de
    Gravata e terno? Merecem
    Morar aonde? Se os meninos

    São realmente o problema,
    Cite pra mim pelo menos
    Um envolvido em esquema.
    De propina ou do mensalão.

    Acorda sangue bom, a corda
    Tá no pescoço e  os meninos
    Roendo o osso na escuridão,
    De um calabouço, sombrio.

    No brilho da caneta de ouro,
    Do político engravatado, vejo
    Vários meninos encarcerados.
    E você aí apontado o dedo errado.

    Se a redução da maioridade,
    Penal resolvesse o problema.
    Para político, corrupto e safado,
    Uma arena de leões famintos..

    Daqueles bem bolados, jogaria
    Um por um, para sentirem na pele
    O que é viver encarcerado vítima
    De uma nação de alienados...

    Que fecham os olhos para os
    Verdadeiros problemas e
     Passam pano para os verdadeiros
     safados.
    +++++
    • Tula Pilar
    • + Como a poesia surgiu na sua vida?
      Surgiu em um sarau que era do lado de casa em Taboão da Serra. Sempre passava e ficava ouvindo os poetas até  que convidaram a mim e minha filha . mais velha para levar um texto. Nunca mais parei de escrever.

      + Como você era antes da poesia?
      Eu era empregada  doméstica, diarista e passadeira de roupas.

      + Quem você é depois dela?
      Quem sou hoje, escritora da periferia de São Paulo colaborando com outras mulheres invisibilizadas. Levo a arte e a poesia para nos transformar e nos libertar de muitos rótulos e preconceitos...




      POESIA 

      Poesia dos pés
      Ah, não  terminei... Quem sou hoje, escritora da periferia de São Paulo colaborando com outras mulheres invisibilizadas. Levo a arte e a poesia para nos transformar e nos libertar de muitos rótulos e preconceitos...

      Caminho pela cidade
      Caminho pelo mundo
      Buscando meus desejos
      Estive aqui
      Estive lá
      Estou junto de mim
      Volto na infância
      Onde os pés libertaram-me
      Pelos campos de terra vermelha de Minas Gerais
      Corri para brincar de pique-esconde
      Pular corda, amarelinha
      - Joga bola!
      - Olha a pipa no céu junto com arco-íris
      - Choveu!
      A água da chuva na enxurrada
      Nossa roupa cheia de barro
      - Xiiii! A mãe vai bater na gente
      - Vamos lavar na cachoeira
      - Não! Lava em uma lagoa!
      - Na água do rio
      - Bate os pés! Lava rápido senão afunda!
      - Está de noite
      - Vamos para casa
      - A mãe via chegar!
      - Tia, ascende a lamparina
      - Machucou o pé de novo, menina!
      Pés com eternas marcas de infância
      Dormem para descansar
      Acordam cedo para trabalhar
      Caminham para o centro da cidade
      Os pés me levam para onde quero ir…
      Para onde posso sonhar!
          +++++
      • Uberê Guelé
      • Como a poesia surgiu na sua vida? Como você era antes da poesia?

        A poesia sempre fez parte da minha vida, desde criança quando ouvia minha mãe rindo e cantando, na música "Aquarela" do Toquinho que eu ouvia no CD que alguém me deu, "Mama África" do Chico César prendia minha atenção inocente.

        Passo a escrever mesmo em 2010 quando conheci o Sarau do Binho, fui um dia sozinho, recitei, mandei poesia pro Correspondência Poética e era minha alegria achar ela impressa nas caixas que eram postas anarquicamente nos terminais.

        Em 2014 eu me aprofundo quando começo a frequentar o Verso em Versos. Pra mim foi a possibilidade de explorar com mais intensidade e gosto a arte da oralidade.

        Quem você é depois dela?
        Me sinto mais completo, ou mais perto da completude.

        POESIA

        Os santos daqui pagam promessa:
        São Pedro de São Paulo
        não sabe o que quer.
        mistura todos os climas e estações
        no mesmo dia.
        Já Santo Antônio não acredita na monogamia,
        quem quiser encontrá-lo vá no baile da 17.
        é um muleque piranha sarrando uma piriguete.
        São Benedito sempre está na padaria do bairro
        pede um pão na chapa acompanhado de um pingado.
        São Gonçalo toca samba nas linhas de metrô e trem
        “Quem puder ajudar Deus abençoe,
        quem não puder, abençoe também.”
        São Jorge é dedetizador.
        São Judas aposta na Mega-Sena.
        Santa Luzia usa óculos escuros por não ter colírio.
        Enquanto São Francisco trabalha feito animal.
        Os santos daqui pagam promessa
        pra não passar mal.
              +++++


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