Faço poesia desde meus dezoito anos, ou seja, a dezessete anos. Comecei quando conheci a posse Zumbi dos Palmares em 2002, lá na cidade que nasci em Juiz de Fora, Minas Gerais. Meus primeiros versos foram nas escritas que fiz como Mc, cantando rap e de lá para cá nunca mais parei.
Como você era antes da poesia?
Antes da poesia, eu não fazia uma reflexão mais apurada dos fatos como hoje. A poesia me trouxe uma visão mais sensível e crítica da realidade por onde trânsito.
Quem é você depois da poesia?
Sou uma pessoa mais sensível, que vê em tudo motivo para escrever, registrar, mostrar o mundo nessa ótica. Não me vejo hoje mais sem viver o universo da poesia, ela me transformou num ser humano pleno, que observa a vida com um olhar além, que sente em tudo poesia.
Contra Redução
Os meninos são fundão.
Para os meninos falta;
Saúde, escola, falta o pão.
Para muitos são bandidos.
Os sonhos dos meninos?
Um caderno, um castelo,
Um abraço um coração..
Cheio de amor, cheio de
compreensão, os meninos
São disposição, mas pros
Meninos o que sobra é..
A camisa 10, titular na
Lojinha da biqueira...
Antes brincavam de
Estilingue vulgo atiradeira.
Hoje os meninos são
Contadores, não de histórias.
Contam cifras, num sistema;
Neo liberalista, que explicita.
A vida dos meninos,
Como se fossem terroristas.
Mas o terror é ver jovens,
Virando estatísticas numa
Sociedade que insiste colocar...
Neles a culpa, 500 anos
Passaram, antes os meninos
Eram filhos dos quilombos.
Hoje são crias dos escombros.
Aprendem a caminhar,
Aprendem a atirar mas
Para os meninos aprender
A amar é um contravenção.
Como já disse o poeta
Coração de vagabundo,
Bate na sola do pé os
Meninos aprenderam..
A dar o Pelé, no capitão!
Não o do Mato, sim o da
Rota que ganha medalha,
De honra quando mata...
O menino numa quebrada
qualquer e bate no peito
Dizendo; mais um
Vagabundo, esse foi morar...
No inferno, mas você já
Se perguntou e os de
Gravata e terno? Merecem
Morar aonde? Se os meninos
São realmente o problema,
Cite pra mim pelo menos
Um envolvido em esquema.
De propina ou do mensalão.
Acorda sangue bom, a corda
Tá no pescoço e os meninos
Roendo o osso na escuridão,
De um calabouço, sombrio.
No brilho da caneta de ouro,
Do político engravatado, vejo
Vários meninos encarcerados.
E você aí apontado o dedo errado.
Se a redução da maioridade,
Penal resolvesse o problema.
Para político, corrupto e safado,
Uma arena de leões famintos..
Daqueles bem bolados, jogaria
Um por um, para sentirem na pele
O que é viver encarcerado vítima
De uma nação de alienados...
Que fecham os olhos para os
Verdadeiros problemas e
Passam pano para os verdadeiros
safados.