Acabou a luz! Esta é a constatação geral quando o breu toma conta do horário nobre da vida paulistana e enquanto meus filhos contemplam a TV inoperante
Eu aparo as vacilantes águas que inconvenientemente invadem a casa pelas frestas abertas no laranja dos blocos pobremente assentados e negligentemente sem reboco.
Acabados os baldes, utensílios da cozinha, como um vasilhame que outrora comportou o sorvete napolitano tão apreciado pela família, aparavam a água. Vez ou outra eu, em grande torcida, manuseava os interruptores na esperança de prontamente a luz voltar, debalde.
Frustrado eu mandava as crianças desconectarem a televisão da tomada. "Mas como saberemos que a luz voltou?" Indignadas retrucavam.
Realmente, a luz naquele momento era mais importante do que a água que invadia os cômodos. Curiosamente o único que não tem goteiras seria o que talvez ninguém se importasse se tivesse, o banheiro. Mas nós estávamos acostumados, pois não era o primeiro verão que passávamos assim. Diferente dos recém-chegados moradores do barraco ao lado que se desesperavam ao levantar os móveis para protegê-los das implacáveis águas.
"A luz voltou! Graças a Deus!" em uníssono os moradores do assentamento do Arariba vibraram.
E volta rádio, e volta a rede social, e volta a televisão para todos saberem dos acontecimentos e abafarem o tilintar das goteiras.
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