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Transformação

Transformação
Entrevista com poetas

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Sarau: um expediente a serviço da liberdade popular


“O sarau é o bocado mais delicioso que temos, de telhado abaixo. Em um sarau todo o mundo tem que fazer [...] no sarau não é essencial ter cabeça nem boca, porque, para alguns é regra, durante ele, pensar pelos pés e falar pelos olhos.

Inúmeros batéis conduziram da corte para a ilha senhoras e senhores, recomendáveis por caráter e qualidades; alegre, numerosa e escolhida sociedade enche a grande casa, que brilha e mostra em toda a parte borbulhar o prazer e o bom gosto”.
(MACEDO, Joaquim Manoel de. A moreninha)

Diferente desse sarau burguês em que pensar e falar é irrelevante, na periferia o sarau não é apenas um lugar, um “mic” ou um evento social onde os participantes estão ali “de rolê”. O sarau é um importante instrumento de resistência da cultura popular periférica, organizado e compartilhado pelo operário que, por algumas horas, comunga a poesia entre os seus pares.

Esse expediente é o legítimo lugar de fala do artista popular, sobretudo poetas, preocupado em fazer da sua arte um meio de combate contra a vilania dos maus patrões, das políticas abusivas e da alienação do povo pobre subjugado por uma elite escravocrata que centralizou a cultura, afastando-a da periferia. Por isso os saraus entre becos, vielas, praças e bares têm sido os legítimos espaços de democratização da literatura.

O poeta Sérgio Vaz, um dos fundadores de um dos mais importantes saraus da zona sul paulistana, em entrevista para a TVT mencionou que  por estar abandonada, sobrou apenas os alunos e os professores na escola, e esses últimos levaram a rua para dentro dela a fim de que todos fossem resgatados, inclusive eles próprios. O “levar a rua” é exatamente apresentar para a juventude pobre a força dos saraus de periferia, essa sociedade de poetas vivos que dialoga Com eles.

Por essa razão que figuras como Vaz, Jefferson Santana, Jaime “Diko” Lopes (fundador do Verso em versos), Thata Alves (fundadora do sarau da ponte pra cá) e tantos outros articuladores culturais são importantes para a literatura brasileira e para a cultura periférica e, justamente por fomentarem o consumo e a produção da legítima arte do Brasil, são comparáveis aos idealizadores da Semana de arte moderna de 1922 ou da Tropicália da década de 1970. No entanto, a cultura da favela não precisa desses rótulos porque ela é o mundo manifesto no traço do verso martelado na condução, na pausa para o almoço, na fila do banco, entre uma faxina e outra ou durante o sarau mesmo.

O sarau acontece à noite, pois é no apagar das luzes “do serviço” que as pessoas se reunem para fazer poesia e, ao menos uma vez por semana, compartilhar versos, discursos e sonhos com aqueles cuja força motriz é a poesia, é a literatura marginal periférica que traduz o seu interior.

Ademais, a literatura marginal ensinada nas escolas brasileiras não contempla a arte da periferia, sequer a considera uma expressão legítima da arte. Todavia a potência da literatura popular estimula os professores mais engajados a levá-la consigo para dentro da sala de aula. Assim, o aluno passa a compreender que a literatura marginal periférica não é apenas uma forma artística, mas uma expressão da resiliência de um povo que já produzia literatura muito antes de saber que aquilo que faziam fosse arte.

Por conseguinte, muitos escritores periféricos retornaram à sala de aula para aprender mais sobre si mesmos e sobre como resgatar a identidade na sua “quebrada”, visto que, além de apresentar a literatura para seu povo, o sarau também pode formá-lo de maneira crítica e engajada para que perceba a importância de caminhar junto com o “artista cidadão”, isto é, o artista sem mídia e que não é menor por isso.

Atualmente há saraus nos mais variados formatos, até mesmo itinerantes como os Poetas ambulantes, que têm levado a experiência da literatura para dentro das conduções diárias onde estão os trabalhadores que não podem frequentar o sarau em seu espaço físico. Entretanto, há quem diga que o sarau tenha perdido sua essência pela profusão de grupos que têm surgido nos últimos anos dispostos a realizar esse trabalho de fomento da cultura periférica justamente por não darem espaço ao livro, isto é, ao texto escrito, motivo pelo qual a literatura é tão importante como catalisadora das potencialidades do indivíduo, sobretudo em condições de vulnerabilidade social.

Muitos saraus acontecem no “buteco”, ponto de encontro histórico do trabalhador que o tem como um lugar de alívio pós-expediente – o “Happy hour” –, que foi ressignificado pela poesia, tornando-se, se já não era, o centro cultural da periferia. Sobre isso afirma Antonio Cândido (2011) 

A literatura é coletiva, na medida em que requer uma certa comunhão de meios expressivos (a palavra, a imagem), e mobiliza afinidades profundas que congregam os homens de um lugar e de um momento, para chegar a uma “comunicação”.

Nas palavras desse célebre professor, o espaço literário comum aos membros de um grupo social corrobora para que a comunhão entre eles eleve o seu nível de humanidade de tal modo que fortalece os laços afetivos dessa comunidade, sobretudo o sentimento de pertencimento ao lugar que aos poucos tem se incluído na cena cultural brasileira. Isso agrega significativo valor à juventude periférica.

Michèle Petit (2008), antropóloga francesa, conviveu muito tempo com os jovens marginalizados de grandes cidades francesas para confirmar o poder elucidatório, redentor e modificador da leitura nos jovens:

Para a grande maioria dos jovens dos bairros marginalizados, o saber é o que lhes dá apoio em seu percurso escolar e lhes permite constituir um capital cultural graças ao qual terão um pouco mais de oportunidade [...]

Petit também evoca o fato de que a leitura permite ao jovem a apropriação de um uso mais competente da língua, pois, muitas vezes, a falta disso representa um entrave social para ele. O sarau, portanto, desafia o indivíduo a superar sua limitação linguística para transpor as limitações que possa encontrar na linguagem.

Por fim, graças aos saraus a literatura periférica tem conquistado mais espaço no cenário literário nacional como uma arte legitimamente marginal, do povo, de luta e de resistência. E ainda há quem os chamem de quilombos culturais.

domingo, 4 de novembro de 2018

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Poster Verso em Versos 6 anos de resistência

Poster Verso em Versos 6 anos de resistência SÁBADO, 27 de Outubro às 11:00 – 23:00 Véspera de eleição Rua batista crespos 105 na Agência Solano Trindade Ponto de referência Terminal Campo Limpo MAIS INFORMAÇÕES LINK DO EVENTO https://www.facebook.com/events/500500150402988/ El Choq! Produções Ilustração Julio Falas

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Verso em Versos 6 anos de resistência

*Verso em Versos 6 anos de resistência*
SÁBADO, 27 de Outubro às 11:00 – 23:00
*Véspera de eleição
Rua batista crespos 105 na Agência Solano Trindade
Ponto de referência Terminal Campo Limpo
MAIS INFORMAÇÕES

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Transformação com Michel Yakini

TRANSFORMAÇÃO.

A poesia transforma com o poeta Michel Yakini
Uma pequena entrevista com poetas sobre o tema.

São apenas três perguntas e as respostas estão abaixo

+ Como a poesia surgiu na sua vida?
A poesia surgiu nas cantigas de coro e palmas dos terreiros de umbanda, no olhar atento  da versação da capoeira, no ouvido atento das histórias do nego veio no buteco, e no incentivo da mulecada em escrever cartinhas de amor pras paquerinhas deles na escola

+ Como você era antes da poesia?
Um menino que revoava sonhos com um par de chuteira nas mãos, e que canalizava jogar ao lado de Amoroso, Djalminha no Guarani, fazer dupla de zaga com Juan no Flamengo. No meio disso, trampava na feira, no mercadinho, lombando escadas pra instalar telefone nas quebradas afora.  Ah também era (e ainda sou) caminhante noturno.

+ Quem você é depois dela?
Continuo canalizando ser jogador de futebol e viajar o mundo (agora) com as asas da palavras.  Hoje faz mais sentido conversar com o sol e a lua, do que fritar pelas injustiças do mundo, isso me deixa doente. Um copo de agua, bebido na moralzinha, me diz melhor o que fazer nesses caminhos de belas encruzilhadas. Dias atrás, não tinha expectativa de chegar nem aos 30 anos, então o que posso fazer de melhor hoje é agradecer

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Jairo Periafricania lança o video clip

Jairo Periafricania lança o vídeo clip BEL PRAZER por
com participação da  Kelly Neriah que faze parte do grupo Versão Popular 


Direção Geral - João Ribeiro @joaoarcenas
Edição - Bruno Okuyama @bruokuyama
Fotografia - Gabriel Alves
Produção musical Dj Márcio e Honda Silva
Produção - Projeto A-FRÔ @projetoafro
Apoio COOPERIFA e BG Produções

domingo, 30 de setembro de 2018

A ótica literária no passeio pela cidade: diferentes visões, diferentes lugares de fala


Nascer periférico no Brasil é como ser a flor que rompe o asfalto, alguns negam que seja uma flor, que seja a flor-resistência e, embora não enxerguem as raízes, tentam arrancá-la, debalde, pois essas raízes são de além-mar. Então sufocam-na o mais que podem, mas tantas outras flores-resistência impedem essa ação exalando poderoso perfume pelos tímpanos, olhos e pele do algoz jardineiro, contornando a aspereza do débil senso de que a vida daquela flor tenha sido concebida ali, no asfalto, já que o opositor jardineiro não percebe mais do que sua insegura visão lhe permite. O perfume das flores-resistência é ancestral, suas raízes estão para além-tempo.

Nascer periférico, e negro, no Brasil e desconectado de tudo isso é doloroso, pois a mão do jardineiro pesa, é sentida até seus calos, mas o perfume das flores-resistência causam, outrossim, dor e febre, no corpo negro que precisa se restaurar.

Essa febre é acompanhada de convulsões porque o corpo se lembra da fragrância rejeitada por uma mente que ainda não saiu do cativeiro, e esse obstáculo é tão forte quanto o asfalto, e tão transponível quanto essa pedra cinza também.
É interessante como quebrar as barreiras sociais pode ser potencializado pela literatura periférica e tão parecido com uma flor que “rompe o asfalto”. No entanto, a perspectiva de Drummond e de tantos outros poetas que vivenciam as cidades de fora da periferia não contempla os vários olhares da favela, que trazem a dinâmica de pessoas as quais vivem na exclusão, mas encontram o lirismo para viver num mundo cínico em que a cena não lhes favorecem.

Por essa razão a importância de conhecer e consumir a literatura periférica, pois isso fortalece uma parte da sociedade invisibilizada por políticas públicas que estão na contramão do progresso social, visto que o estudo literário é necessário para a construção e reconhecimento do caráter de um povo e, embora os autores favelados não estejam na cena cultural midiática – cânone – essa cultura carece de apreciação para que, inclusive, o preconceito contra o operário diminua em obras por meio das quais sua vivência seja abordada artisticamente.

A literatura periférica resiste e reside além das fronteiras sociais impostas:

Amor periférico

No entanto
tinha tudo pra dá errado com pranto
se existisse música triste o canto
muito duro muito rude no pagode

Vê se pode
eu alado de angústia e sacode
meu romantismo “chamá-la no bigode”
escondendo a tristeza que me prende

Não se rende
ela no jeito de que entende
qualquer mágoa no peito ela defende
e teus olhos nos meus, uma dança

Onde trança
as ideias dos olhares; confiança
enxugar as tempestades pra bonança
o barraco transformar no Monte Olimpo

Onde garimpo
ofendendo o incrédulo e o ímpio
ternura da Divinéia ao campo limpo
o lado de cá não cadavérico

Esotérico
nem problemático nem bagunçado, nem histérico
mi casa é o termômetro periférico
nem triste nem pra baixo nem careta

O planeta
girando confuso em mim e na preta
era nós dois afastando da gente a treta
o coração no coração tudo dizia

A energia
junto era melhor como um só agia
não e truque de burguês essa magia
a gente se entende na lida

E lapida
a caminhada que foi tão dividida
nós fortalecemos nossa vida
alimentando no beijo o que fomos

E propomos
ser real nos poemas o que pomos
ser continuação do que somos
sem mentira só verdade a gente sabe

Que desabe
o mundo. E nós em nós se cabe
nos Cingapura, favela e Cohab
esmagando corrente e pelourinho

Com carinho
paciência e mãos dadas no caminho
da hora mesmo tá feliz, mesmo sozinho
porque logo mais o eterno encontro

Onde conto
pra esmagar frustração tamo pronto
é agora alegria esse ponto
pro bom da vida a gente acende o fulgor

Pelamô

(Akins Kintê) 

Esses versos de Akins Kintê são da sua obra “Muzimba: na humildade sem maldade”, livro de estreia desse poeta musical que, por meio do qual, apresenta os caminhos da sua poética transitória entre saraus, cortiços, becos e vielas das diferentes periferias da cidade de São Paulo; e esse poema demonstra bem que nem tudo na poesia periférica é enfrentamento – ao menos não direto. Ademais, os poemas líricos declamatórios também estão presentes na estética da periferia, visto que o amor também é um ato de resistência.

Claro que para entender o amor como uma força que está para além do sentimento e emoções dos amantes, isto é, um ato de resistência, que “esmaga frustrações e correntes” compartilhadas por ambos, num apogeu particular de sinergia no “eterno encontro”, e que afasta tudo de ruim que possa acometer esses indivíduos que amam, é preciso se colocar no lugar de fala desse eu lírico periférico, comum àqueles que dividem da mesma dor e dos mesmos artifícios de resiliência, por exemplo.

Os versos a seguir de Solano Trindade confirmam que o “amor periférico” simboliza o que há de mais caro no sentimento de pertencimento ao lugar e de cuidado de si e do entorno do cidadão das periferias, do operário das cidades, construtor invisível da máquina social, que o esmagaria sem dó, se não fossem os escritos de tantos autores seus iguais.

Baianinha

vatapá permanente
doce de coco
cafuné dendê
você veio na hora
quentinha
pra minha vida
trazendo o dengo
do que eu precisava.
Candomblé da minha madrugada
batendo em mim
que sou tambor creoulo
com patuá
envolvendo meu pescoço
com patuá
envolvendo meu pescoço
botando em minha boca
feitiço de Iansã.
Você veio agora
como a revolução de Cuba
me animar a vida
Você veio agora
como a libertação do Congo
me tocando pra frente
e fazendo esquecer
o tempo
e a velhice.

Você veio agora
fazer mutirão comigo…
(Solano Trindade)

Embora o amor não seja apenas um meio de sobreviver às agruras da vida, Solano Trindade o compreende como redenção, igual a alguns dos poetas renascentistas, por exemplo, Camões, o qual também considerava o amor como uma forma de rejubilo da existência:

Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
(Camões)

Solano, no entanto, explicita um amor de um lugar de fala diferente daquele compartilhado pelos poetas clássicos, um lugar que sequer deveria existir, a favela – que não só existe, como também molesta a todos os seus moradores e, paradoxalmente é o ponto de mutação entre a resistência e a condescendência às políticas de embranquecimento do povo Brasil. Por outro lado, esses versos não são sobre o amor ou sobre a favela, mas sobre um indivíduo que se percebe no lugar de fala de quem ama numa região, porém trabalha noutra mais ao centro, onde mais tempo passa, dentro da mesma cidade, deixando o leito em outro extremo. 

Ademais, Mário de Andrade, poeta clássico, renomado e imortal do Brasil, também foi um aficionado da capital paulistana, e a vê de uma perspectiva diferente dos poetas periféricos:


Garoa do Meu São Paulo

Garoa do meu São Paulo,
-Timbre triste de martírios-
Um negro vem vindo, é branco!
Só bem perto fica negro,
Passa e torna a ficar branco.

Meu São Paulo da garoa,
-Londres das neblinas finas-
Um pobre vem vindo, é rico!
Só bem perto fica pobre,
Passa e torna a ficar rico.

Garoa do meu São Paulo,
-Costureira de malditos-
Vem um rico, vem um branco,
São sempre brancos e ricos...

Garoa, sai dos meus olhos.

(Mário de Andrade, Puliceia desvairada)  

A neblina, a garoa, vislumbrada pelo poeta da Pauliceia desvairada é um elemento que iguala a todos numa metrópole plural, mas também  que serve para esconder a iniquidade inerente a essa grande cidade e, talvez, essa percepção causava horror ao estudioso apaixonado por São Paulo e consciente da limitação da sua própria perspectiva de homem branco e de não morador de todas as São Paulos.

Embora Oswald de Andrade tenha dito que a massa se serviria do seu “biscoito fino”, este continua distante dos moradores do Jd.Ingá, do Pq. Arariba, da Vila Gilda, do Jd. Peri e de tantos outros bairros cujos parques lotam de crianças que mal leem a cartilha da escola. O “biscoito fino” de Oswald não chega porque seu distribuidor mantém o foco unicamente na região central, para a periferia chega apenas a fábrica e a fome.

Da mesma forma que os modernistas buscavam uma literatura nacional, a poesia periférica busca o caráter do seu povo, sem pretensão de generalizar o Brasil, e na medida em que a história é deturpada por aqueles que a manipulam para que ela dê a falsa ideia de democracia racial, muitos poetas negros e negras escancaram que não é bem assim:

Sociedade dos poetas vivos

Entre xenófobos e lobos bobos
a ingenuidade dos utópicos
não vai salvar florestas
as ruas dos esquecidos nos trópicos
parindo poetas,
você viu?
não dá uma coluna de jornal
em que caiba
o espelho da gente gourmet que não reflete as caras sertanejas
em que me enxergo
e os poetas do asfalto não serão resenhados por Antonio Candido
[...]

E os professores da língua
Portuguesa do Brasil
ainda pensam que ensinam
o emprego dos porquês
(Michele Santos, Toda vida,) 

A poesia de Michele Santos, poeta ambulante nas conduções da cidade de São Paulo, é um exemplo de que o estudo da literatura deve passar pelo crivo do estudo da sociedade, visto que o lugar de fala do poeta, isto é, sua ótica é muito importante para compreender a motivação do poema e sua importância como instrumento de reconhecimento. Afinal, as orientações sociológicas e psicológicas são importantes instrumentos para a interpretação do fato literário (Candido, 2011), mas não reduzem o poeta quando se entende que este transforma a realidade, não para explicá-la, mas para confrontá-la com a poesia que encontra nela.

Negro drama

Crime, futebol, música, caraio
Eu também não consegui fugir disso aí
Eu sou mais um
Forrest Gump é mato
Eu prefiro contar uma história real
Vou contar a minha

Daria um filme
Uma negra
E uma criança nos braços
Solitária na floresta
De concreto e aço

Veja
Olha outra vez
O rosto na multidão
A multidão é um monstro
Sem rosto e coração

Ei, São Paulo
Terra de arranha-céu
A garoa rasga a carne
É a Torre de Babel

Família brasileira
Dois contra o mundo
Mãe solteira
De um promissor
Vagabundo

(Racionais MC)

O drama do negro periférico em São Paulo é muito maior do que o próprio negro da periferia que, muitas vezes, tem dificuldade para se perceber, mas que não se parece com o mesmo da neblina que turvava o poeta Mário de Andrade. Isso é uma questão de ótica mesmo.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Transformação Quina

Como a poesia surgiu na sua vida?
A poesia surgiu antes de eu imaginar que tantos desabafos eram.na verdade poesia. Na adolescência.

Como você era antes da poesia?
Antes da.poesia era um nó na garganta.

Quem você é depois dela?
Depois dela sou tudo, através dela me transformo todo dia.








POEMA

"Por cima da cama
Dois corpos suados, o extasiados,  nus.
Por dentro dos olhos um sorriso,  nós,  luz.
De todos os gritos,  sussurros e gemidos também teve blues. "

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Transformação com Márcio Ricardo

Como a poesia surgiu na sua vida?
A poesia surgiu com as rimas, eu não tinha amigos aos 6 anos, e daí aprendi rimar antes de aprender ler e escrever. Quando eu entrei na escola e aprendi ler e escrever comecei a conhecer melhor o som e tom das palavras e enriqueci o meu vocabulário. Quando eu tinha algum problema eu não conseguia desabafar com ninguém, nem na escola e nem em casa. E um dia vi um livro de poesias e vi que nas estrofes tinham os versos e os versos contia rimas. Daí eu trocava ideia comigo mesmo, a primeira estrofe rimando eu falava sobre os meus problemas, a segunda eu fingia que era alguém de fora e tentava resolver os meus problemas, e por aí vai. A poesia desde criança para mim é como se fosse um corte, não rasga a pele, mas você precisa ver como fica a nossa alma quando colocamos para fora todas as coisas boas e ruins que sentimos.

Quase fui jogador de futebol, e por necessidade tive que parar de estudar aos quinze para chegar no horário correto no clube que eu jogava, machuquei o meu joelho e o clube não quis pagar a minha cirurgia, dai tentei voltar a estudar, mas não consegui vaga em nenhuma escola do Grajaú. Só voltei a estudar com 21 anos, fazendo o EJA, a suplência. Lá, uma vez fui zoado por estar escrevendo poesias, daí levantei e falei uma poesia para todos, uns gostaram outros não, mas o importante foi o respeito. Conheci a que é hoje minha madrinha na arte, Maria Vilani, e ela me apresentou o centro de Arte e Promoção Social. Em uma roda de poesia mostrei meus textos, que chamou a atenção de um filósofo chamado Cesar Mendes da Costa, que tem uma editora no parque Sto Antonio e apostou em mim, publicando o meu primeiro livro, o "Felicidade Brasileira". O resto muitos ja sabem da história, surgiu o poeta Márcio Ricardo.

+Como você era antes da poesia?
Acho que a poesia sempre foi o melhor dos ouvidos, no papel e caneta eu podia gritar, e falar e falar (escrever), que ninguém nunca iria me julgar, me cortar...
Porém o ser humano é muito invisível para a sociedade, e eu não era diferente.

Quem você é depois dela?
Hoje eu sou amigo e conheço grandes escritoras e escritores, pessoas que me representam e representam os meus, os nossos. Pessoas que eu olho para o lado e digo: "Não tô só".
A poesia é um grito, e hoje eu agradeço tudo que sou e o que ainda posso ser graças a ela.

Pra quem nasceu dentro de uma viatura, sem forças para chorar, e depois ser adotado e passar por tudo que passei até hoje, é uma conquista poder escrever uns versos, e quando alguém me ouvi, é um pedaço do paraíso, e não digo que é por ego, e sim por merecimento de uma linga estrada de quase 28
 anos.

 

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Transformação com Victor Rodrigues

Como a poesia surgiu na sua vida?
Ela surgiu como uma rota de fuga. Ou um plano de vingança. E uma questão de sobrevivência. Eu cresci quieto e meio perdido, sem ver muito sentido nas coisas que me eram apresentadas. Fiz um monte de curso profissionalizante, trabalhava, fazia faculdade pra poder ser promovido. Seguia a cartilha da ascensão social à risca. Mas tava ficando doente. Aquilo era muito pouco e cruel. A vontade de viver ia acabando. Aí a poesia virou refúgio. Mas apareceu bem no susto. Eu não tinha esse contato tão claro com ela quando era mais novo, nem de ler nem de escrever. Foi rolando a partir duns 19 anos mais ou menos, quando eu já não aguentava mais mesmo e precisava por pra fora. Aí um mundo se abriu e eu me apeguei a ela como o que me restava.

Como você era antes da poesia?
Bastante quieto e deslocado. Não me via em lugar nenhum, me colocava pouco, só observava. Rolou muita coisa na minha vida que me fez ficar escondido pra dentro. Doenças, tretas, crises. Da morte do pai à relação com a mãe, da depressão ao marcapasso. Esse mundo não servia, desde cedo eu sentia que tinha alguma coisa errada.

Quem você é depois dela?
A poesia trouxe um negócio esquisito com a vida. De perder o medo de correr o risco. De se ver na palavra e nos outros que ela carrega. Continuo perdido, deslocado e vendo muita merda no mundo. Mas agora não tão sozinho. Tem a palavra pra acompanhar sempre. E essa necessidade de inventar mundos no texto. De sair de dentro e exercitar minha fragilidade. De se encontrar na sensibilidade das coisas. Às vezes só faz aumentar a carga de coisa pra carregar, mas às vezes alivia. Foi uma escolha de viver a vida, construindo junto.

Transformação com Peu Pereira

Como a poesia surgiu na sua vida?
Tenho um irmão que sempre leu muito, o Iuri Pereira. E tinha alguns livros de poesia e também ouvia umas músicas “diferentes”. Na década de noventa na zona sul de São Paulo, no Parque Santo Antônio, ouvia-se sobretudo Racionais e os pagodes noventistas. “O que é que eu vou fazer com essa tal liberdade?”…
E uma vez ele tava escutando uma musica do Secos e Molhados e as palavras da letra da música nunca mais saíram de mim: “Se eles têm três carros, eu posso voar”.

Como você era antes da poesia?
Eu trabalhava como camelô e tinha que ir do parque Santo Antônio até o túnel Nove de Julho. Eram umas três horas de ônibus por dia, então eu precisava fazer alguma coisa enquanto estava ali. Ainda bem que não tinha celular nessa época. Nesse trajeto de ida e volta li muitos livros. Lembro do primeiro que li, foi um do Sidney Sheldon sobre umas enfermeiras, lembro muito pouco da história. Depois li bons livros como Olhai os lírios do campo, do Érico Veríssimo, Agosto, do Rubem Fonseca, a parte do inferno da Divina Comédia, o Poderoso Chefão… Li uma porrada de livros até que apareceu um do Manoel Bandeira. E gostei de mais. Depois fui aprendendo a identificar os tipos de leituras que mais me agradavam pra poder estar sempre lendo.

Quem você é depois dela?
Leio muita gente do movimento de Literatura da Periferia como de outros lugares do mundo também. Gente viva e gente morta. conheci muito gente depois dos saraus da Coopera e do Binho. Acho que ler é o que mais importa, mais do que escrever até. Porque quando lemos tiramos um tempo para nós mesmo. Para pensar, imaginar e refletir o mundo e a vida. E afinal é isso que importa. Ter os seus momentos, sentir sua singularidade nesse universo, refletir o tempo e a existência. Como surgimos? Eis o maior mistério. 

Poema

As valentias do mundo

O que tem faltado pra gente?
Usamos drogas pra sentir o amor
Para tocar na pele e olhar nos olhos
Já não conquistamos sensações
Com nossos próprios corpos
O que nos tem faltado?
Somos a juventude e gostamos
Mais de ácido e cocaína
Do que de política e rock and roll
Do sexo sabemos apenas penetrar 
Desaprendemos sentir os poros
Rompendo em milhares de fissuras
Transfundindo todos os sangues
Gostamos mais dos nossos carros
Do que do pau duro
O que será mais falso?
Nós usamos as drogas
E nossos pais não vão morrer de overdose
Vão morrer de trabalhar e só.
Todos os poemas bonitos
Não valem uma pedra contra o sistema.
Fim da conversa no bate-papo
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Transformação com Jefferson Santana

1 Como a poesia surgiu na sua vida?
A poesia surgiu pra mim ainda na época da escola. Eu tava na oitava série quando comecei a escrever meus poemas. Tinha até caderno, mas não achava que isso me levaria pra muito longe. Eu escrevia só pra ter um modo de expor e me livrar das minhas aflições.

2 Como você era antes da poesia?
Eu era uma pessoa fechada, muito mais que hoje, quase não conversava. Minha visão de mundo também era bem limitada.

3 Quem você é depois dela?
Depois da poesia e principalmente depois que conheci os saraus me transformei radicalmente. Comecei a enxergar meu papel no mundo, comecei a me posicionar contra as injustiças e lutar por dias melhores. A poesia pra mim é mais que uma graduação.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

O poder restaurativo da literatura periférica

Do terrorismo nos morros e vielas ao impedimento nas assembleias e passarelas, o negro é inviabilizado no Brasil por meio de políticas públicas que não favorecem a sua participação nas esferas de poder do país. Isso significa que sem representação também não há o reconhecimento da comunidade negra como atuante na história da formação da economia brasileira, não apenas do povo do Brasil, por conseguinte a autoestima desse contingente fica rasteira.

Essa realidade é sentida por todas as gerações que desde a mais tenra idade convive com a nulidade do poder, da representatividade e da beleza africana, pois lhes ensinam a história do negro a partir da diáspora, como se essa raça existisse unicamente para a servidão e como escravos libertos, alheios à própria história.

Por essa razão, poetas marginais que têm recuperado as raízes culturais dessas pessoas por meio da pesquisa, da estética e do fazer poético nos temas, na linguagem ou na forma da poesia, como Luan Luando, Elizandra Souza, James Bantu e Thata Alves, para citar alguns, acolhendo um vocabulário ancestral na construção de formas negras mais vivas e simbólicas, as quais recuperam o ânimo de um povo esquecido e à deriva na própria vivência numa espécie de folclore alimentado pelo racismo da elite e ignorância dos seus iguais, alimentando o banzo presente em cada existência preta no Brasil.

Ademais, os meios de controle da população negra continuam muito ativos na figura do “capitão do mato” contemporâneo: a PM que, embora tenha abandonado a chibata, brande o cassetete a torto e a direito nas periferias do país; através do encarceramento em massa da juventude periférica no auge da sua força criativa e da sua potência de mudança, numa clara atitude de poda de um extrato da sociedade que sempre ameaçou a ordem vigente; e na oferta de Educação de baixa qualidade, o que impede essas pessoas de ascenderem economicamente. Os versos de Luan Luando são bons exemplos de como a deformação da história do negro no Brasil o torna um marginal na própria história:

Hoje temos policial.
a chibata não acabou e nem sumiu: evoluiu
[...]
A chibata está no cassetete
que priva o manifestante de exercer seu direito.
A chibata é o preconceito
entre os semelhantes.

A chibata é a deslizante ilusão da televisão
que quer que você a veja, só pra te entreter,
e esconder os abusos de quem está no poder.
[...]
(LUANDO, Luan. Manda busca)

Logo, a falta de conexão com as reais raízes africanas faz da criança negra, por exemplo, mero agente amplificador do esquecimento dessa cultura no Brasil, execrando as religiões ancestrais e demonizando a arte periférica original. Sobre isso Elizandra Souza poetizou:

Tecendo memórias

Ouço as minhas ancestrais:
Cantando, raiar os luares
Dançando, o sagrado costurar
Sorrindo, colher as flores

Retribuo:
Sonhando poesias,
Construindo melodias,
Recitando amanhãs

Flutuo na terra, piso no mar
Enfrento serpentes e armadilhas
Mergulho dentro de mim...

Atribuo a vocês, minhas ancestrais
Quem hoje sou eu, danço seus ritmos meus
Peneiro o deserto, encontro tesouros
Mesmo que besouros rondem meu lar
Pétalas finas e cheirosas
Rosas rubis a quem possa me interessar

Corro e percorro de sapatos vermelhos
Trilhas, trilhos, engrenagens
Roupas, arco-íris na vida cinza
Sozinha, ando sempre acompanhada
Ancestral minha que hoje sou eu.
(SOUZA, Elizandra. Águas da cabaça)

Esses são versos de verdadeiros representantes da poesia Pós-moderna brasileira, na qual há um alinhamento de diferentes tendências estéticas dos séculos XIX e XX, como o trabalho com a “palavara-pedra” à João Cabral de Melo Neto, a sugestividade branca do neossimbolismo em Cecília Meireles, ou a transgressão da sintaxe tal qual Mário de Andrade propôs e foi habilmente praticado por Clarice Lispector. Esses versos foram tecidos por mãos negras que não mais ficaram, nem ficam ou ficarão invizibilizadas, pois participam do cenário cultural vivo brasileiro, mãos habilidosas que contribuem para a mudança no paradigma de violência e comoção relegado à população das periferias do Brasil. Ademais, o negro ocupa seu lugar na história como protagonista do seu processo de libertação do cativeiro, como ser existente e possuidor de uma rica cultura muito anterior à presença do europeu no continente africano (erguendo civilizações, não como escravos, mas como soberanos, tal qual a egípcia), e não como vil aproveitador da escravidão fazendo fortuna às custas do sofrimento alheio (como o europeu sempre tentou ensinar na educação básica que o negro escravizou o negro).

Por fim, o opressor sabe que negar a história do oprimido é a forma mais eficaz de desumanizar uma categoria de pessoas sobre a qual se queira impor poder, mas a violência dos opressores também os desumaniza, visto que estes distorcem a realidade para tornar o oprimido um ser inferior a ele, mas, cedo ou tarde, aqueles que sempre foram impedidos de gozar de um estado de plenitude justa e humana, lutam contra quem os fez menos (FREIRE, 2012). Por isso que o papel restaurativo dos poetas periféricos é tão necessário no processo de reconquista da história do negro – na África – embora a perspectiva seja dos becos, vielas e morros do Brasil. Afinal, saber as próprias origens é a base para se lançar para um futuro vindouro.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Dona Eda Luiz é a homenageada da Felizs 2018

Coordenadora Geral do Cieja Campo Limpo por 20 anos, Dona Eda construiu no Capão Redondo um projeto pedagógico baseado na inclusão e no acolhimento que hoje é referência de educação democrática no Brasil e no mundo. Sempre de portas abertas para a comunidade, o Cieja Campo Limpo trabalha em conjunto com os movimentos culturais da zona sul fortalecendo os vínculos no território e as potências do lugar.

Programação 2018 - FELIZS, Feira Literária da Zona Sul

PROGRAMAÇÃO IV FELIZS - FEIRA LITERÁRIA DA ZONA SUL
Sobre clique aqui
10.09 - 15H
CONTAÇÃO DE HISTÓRIA:  ÁFRICA EM CONTOS  - CIA COLHENDO CONTOS E DIÁSPORA NEGRA
A Cia. Colhendo Contos e Diáspora Negra apresenta três narrativas infantis que se passam na Etiópia, em Gana e em Angola, mas que tratam de assuntos universais. As histórias são: "Os Reis de Gondar", "Os Sete Novelos" e "Os Comedores de Palavras", que ensinam às crianças a importância da solidariedade, do respeito, da amizade e da família.

INTERVENÇÃO MUSICAL: MARLON CRUZ
LOCAL: EMEI CAMPO LIMPO
10.09 - 21 H
SARAU DE ABERTURA DA IV FELIZS
APRESENTAÇÃO DE DANÇA, MÚSICA E LITERATURA -  ERMI PANZO E YANNICK DELASS
Ermi Panzo, poeta e bailarino angolano, apresenta cenas que evocam a poesia angolana e de outros autores africanos utilizando-se das linguagens cênica, musical e corporal, em parceria com o músico Yannick Delass. Em seguida, o Sarau de Abertura da IV FELIZS,  apresenta a poesia presente na Zona Sul.

Filme: Quando Zumbi chegar : Edinho. 8´01´´ São Paulo : 2014- 2017. Produção: 5nOMundo. Entrevista com griot do Quilombo do Muquém.

LOCAL: ESPAÇO DE TEATRO CLARIÔ
11.09 - 14H
CAMINHADA LITERÁRIA: CARTOGRAFIA AFETIVA
Caminhada poética e musical com os poetas do Sarau do Binho, alunos de escolas públicas e comunidade fazendo um cortejo percussivo e poético, com paradas em pontos relevantes para o conhecimento das pessoas e lugares que fazem do Campo Limpo um território de produção literária e cultural.

PARTICIPAÇÃO DE GERALDO MAGELA E GRUPO CANDEARTE NO CORTEJO POÉTICO
LOCAL: RUAS DO CAMPO LIMPO
11/09 - 14H
OFICINA: A POÉTICA DESENHADA NOS CARTUNS E HQS - PAULO BATISTA
Histórias em quadrinhos, cartuns e ilustrações em diálogo com a literatura, em especial com a poesia. Essa é a proposta  da oficina com o cartunista e ilustrador Paulo Batista. Abordagens sobre o exercício de criação e desenho, as especificidades e possibilidades de comunicação dessas linguagens e as alternativas de exposição e publicação dos trabalhos.
LOCAL: SESC CAMPO LIMPO
11.09 - 19H
CONVERSA LITERÁRIA E EXIBIÇÃO DO FILME: PANORAMA - ARTE NA PERIFERIA - 52’ - 2007 - DIREÇÃO DE PEU PEREIRA
COM PEU PEREIRA, MARCOS PEZÃO, J. MAXACALUNGA (JOSIEL)
Sinopse do filme: O documentário “Panorama - Arte na Periferia”, gravado entre os anos de 2006 e 2007 e lançado em junho de 2007, retrata um momento histórico da produção artística da zona sul de SP. O filme aborda diversos artistas como Sérgio Vaz, Ferréz, Binho, Gal Martins, Euler Alves, dentre outros, e coletivos como o Sarau da Cooperifa,  Sarau do Binho, Samba da Vela, Bloco do Beco, para discutir o papel da arte, do artista e suas motivações.

Sinopse da Mesa:  Bate papo após a exibição com o diretor Peu Pereira, Marcos Pezão e J. Maxacalunga (Josiel), acerca dos avanços observados no movimento cultural dez anos após a realização do filme, como o movimento se desenvolveu e sua influência hoje nos territórios periféricos. Serão abordados o histórico das ações, os coletivos formados, bem como as linguagens e aspectos relevantes para a cultura contemporânea.

MEDIAÇÃO: DIANE PADIAL
INTERVENÇÃO POÉTICA:  SERGINHO POETA
LOCAL: SESC CAMPO LIMPO
12/09 - 10H
ENCONTRO COM O AUTOR – MICHEL YAKINI
É escritor e produtor cultural. Co-fundador do Sarau Elo da Corrente, que faz parte do movimento literário das periferias de SP. Publicou os livros "Desencontros" (contos, 2007), "Acorde um verso" (poesias, 2012), Crônicas de um Peladeiro (crônicas, 2014) e "Amanhã quero ser vento" (romance , 2018). Colunista da revista on-line Palavra Comum (Galícia - Espanha) e co-organizador da antologia bilíngue on-line "Letras e Becos - Literatura das Periferias de São Paulo".

O autor de  “Amanhã quero ser vento” e “Crônicas de um peladeiro” conversa com estudantes e professores da E. E. Francisco D´Amico sobre sua vivência como autor e organizador do Sarau Elo da Corrente.

INTERVENÇÃO MUSICAL: POTYRA DA PAZ
LOCAL: E. E. FRANCISCO D´AMICO
12.09 - 14H
CONVERSA LITERÁRIA: LITERATURA AFRICANA DE LÍNGUA PORTUGUESA - DAS HERANÇAS AOS PROCESSOS IDENTITÁRIOS DE RESISTÊNCIA
COM JOSÉ DE NICOLA, ERMI PANZO E SÓNIA SULTUANE
O escritor e professor José de Nicola conversa com os autores Ermi Panzo de Angola e Sónia Sultuane, de Moçambique, sobre a emergência, a identidade e temáticas singulares da literatura africana de língua portuguesa e seus autores, colaborando para sua difusão no Brasil.

MEDIAÇÃO: ÉRICA CRISTINA FERREIRA
INTERVENÇÃO POÉTICA: ERMI PANZO
LOCAL: BIBLIOTECA INFANTOJUVENIL MARCOS REY
12/09 - 14H
OFICINA DE COLAGENS - UBERÊ GUELÉ
A oficina propõe exercícios de criatividade com base na escrita e na colagem, costurando e encontrando convergências nas duas poéticas. Brincando com as diferentes cores, texturas e perspectivas das palavras e com a morfologia da colagem, os participantes serão estimulados a criar um trabalho visual. A vontade de traduzir diferentes sensações é o que cria a beleza na mistura das duas poéticas.

LOCAL: SESC CAMPO LIMPO
12.09 - 19H
LANÇAMENTO DO LIVRO INFANTIL  “ AMORAS” - DE EMICIDA, COM ILUSTRAÇÕES DE ALDO FABRINI -  ED. CIA DAS LETRINHAS
Na música "Amoras", Emicida canta: "Que a doçura das frutinhas sabor acalanto/ Fez a criança sozinha alcançar a conclusão/ Papai que bom, porque eu sou pretinha também". E é a partir desse rap que um dos artistas brasileiros mais influentes da atualidade cria seu primeiro livro infantil e mostra, através de seu texto e das ilustrações de Aldo Fabrini, a importância de nos reconhecermos no mundo e nos orgulharmos de quem somos desde criança e para sempre. "Um livro que rega as crianças com o olhar cristalino de quem sonha plantar primaveras para colher o fruto doce da humanidade" (Sergio Vaz).

LOCAL: SESC CAMPO LIMPO
12.09 - 19H30
EMICIDA CONVERSA COM KIUSAN OLIVEIRA- PRODUÇÃO LITERÁRIA PARA CRIANÇAS E IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
15 anos após a Lei 10.635/03[1] , quais caminhos a literatura infantil e infantojuvenil têm aberto para que as matrizes africanas e afrobrasileiras sejam consideradas conteúdos culturais para a formação da identidade das crianças e jovens brasileiros? Quais desafios foram vencidos e quais ainda estão postos? Como esta produção literária e editorial pode dialogar com políticas públicas de fomento à leitura e com a formação de professores e mediadores de leitura?

MEDIAÇÃO: RODRIGO CASARIN
INTERVENÇÃO POÉTICA: JENNYFFER NASCIMENTO
LOCAL: SESC CAMPO LIMPO
13/09 - 10H
CONVERSA COM O AUTOR - POW LITERARUA
Paulo Nascimento de Oliveira (Pow Litera Rua) 44 anos é MC, percussionista e poeta. Faz diversas ações culturais na região da zona sul . É ativista do movimento hip hop há 25 anos e faz parte do Coletivo Sarau do Binho. Organizador do Coletivo Sarau Alternativo, lançou um CD independente em 2004 e seu primeiro livro de poesia “ Lokomotivamente” em 2017, na III Felizs, pelo Selo Sarau do Binho.

INTERVENÇÃO POÉTICA: FERNANDO RANGEL
LOCAL: EMEF PALIMERCIO DE REZENDE
13/09 -14H
OFICINA:  RITMO E POESIA - MC GASPAR
Abordará a história do Hip Hop, bem como seus quatro elementos - MCs, DJs, Break e Grafite. Gaspar vai ensinar como trabalhar com as palavras, buscando a criação de poesias, além de valorizar o rap, contemplando o ritmo e exercícios de rimas.

LOCAL: SESC CAMPO LIMPO
13/09 - 19H
LANÇAMENTO DO LIVRO- “SESC CAMPO LIMPO - O ESPAÇO DE CULTURA COMO CONVIVÊNCIA- DIÁLOGO E CONTRAPONTO À LÓGICA DA CIDADE”, DE PAULO CASALE E SHIRLEY TORRES PEREZ
Paulo Casale - Formado em Letras pela UNESP, com especialização em Gestão de Projetos FIA, e Financiamento e Economia da Cultura pela Université Paris Dauphine. Trabalha no SESC São Paulo desde 1992 e foi gerente na implantação do SESC Campo Limpo. Atualmente é gerente da Unidade 24 de Maio.

Shirlei Torres Perez - Doutora e Mestra em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Bacharel em Teatro pela ECA-USP. Lato Sensu em Sociologia do Lazer pela Escola de Sociologia e Política de SP. Especialista em Administração e Administração da Cultura pela FGV-SP. Trabalha no SESC São Paulo desde 1997. Foi coordenadora de programação na inauguração do SESC Campo Limpo. Atualmente trabalha no SESC Pinheiros.

MEDIAÇÃO: BINHO (ROBINSON PADIAL)
INTERVENÇÃO POÉTICA: MARCO MIRANDA
LOCAL: SESC CAMPO LIMPO
14/09 - 14H
ENCONTRO COM O AUTOR - SERGINHO POETA
O poeta e professor Sérgio Mesiano (Serginho Poeta) autor de “Negro Poeta de Esquina” conversa com alunos da E.E. Francisco de Paula sobre suas inspirações e desafios ao escrever.

INTERVENÇÃO POÉTICA: AUGUSTO CERQUEIRA
LOCAL: E.E. FRANCISCO DE PAULA
14/09 -19H
CONVERSA LITERÁRIA: DESCOLONIZANDO TRAJETÓRIAS: MULHERES NEGRAS, DIÁSPORA E EMANCIPAÇÃO- DIVA GUIMARÃES, TATIANA NASCIMENTO DOS SANTOS E NAJARA LIMA COSTA
Essa conversa mostrará o olhar de mulheres negras de diferentes gerações sobre memórias ancestrais. Quais são os ecos, as semelhanças e os diálogos entre suas trajetórias individuais alimentadas por referências do movimento e das artes negras? O encontro pretende levantar a reflexão para que se pense sobre e se coloque em prática uma educação antirracista.

Filme: Aonde é o rolê? - Sarau das Pretas. 9´38´´.Direção:  Stephanie Catarino, 2016.

INTERVENÇÃO POÉTICA: THATA ALVES
LOCAL: SESC CAMPO LIMPO
15/09 -10H
OFICINA DE CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - GISELDA PERÊ
A arte-educadora e mestranda (UNESP), Giselda Perê, provocará os participantes a exercitar e refletir sobre a oralidade como modo específico de comunicação e transmissão de conhecimento, recorrendo aos saberes ancestrais africanos.

LOCAL: EMEI CHÁCARA SONHO AZUL
15/09 - 17H
CONVERSA LITERÁRIA:  CINEMA E LITERATURA - NOVAS POSSIBILIDADES DE INSERÇÃO DA LINGUAGEM POÉTICA ATRAVÉS DO AUDIOVISUAL
CONVIDADOS: RENATO CÂNDIDO, LUIZA ROMÃO,  ADRIANA BARBOSA E BRUNO CASTANHO
Produtores audiovisuais que transpõem ou criam temas, personagens ou narrativas da literatura periférica comentam sobre seus trabalhos e os desafios de trabalhar com o cinema.

Filmes: “Dara – a primeira vez que fui ao céu”- (Renato Cândido), sobre conto de Elizandra Souza;  “Sangria” (Luiza Romão),  “Ferroada”( Adriana Barbosa e Bruno Castanho) , sobre o poeta Tico.

MEDIAÇÃO: FERNANDO SOLIDADE
POCKET SHOW: LUANA BAYÔ
INTERVENÇÃO POÉTICA: DANIEL MINCHONI
INTERVENÇÃO POÉTICA:  RENATO PALMARES
LOCAL: ESPAÇO CULTURAL “I LOVE LAJE”
17/09 - 10H
”QUEM CONTA SEUS MALES ESPANTA” -  CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COM VIVIAN CATENACCI
Quem nunca disse ou ouviu um ditado popular? Nesta proposta artística, a roda de histórias foi inspirada nas frases e expressões tradicionais brasileiras, que remetem à sabedoria popular em diferentes situações da vida cotidiana e há tempos passam de boca em boca, de geração em geração. Os contos oriundos de diversos cantos do mundo são entremeados por cantigas de verso, para cantar junto e compartilhar uma preciosa coletânea de ditos populares, que compõem um repertório comum entre artista e público.

POCKET SHOW: BANDA SEVERINA E OS XIQUE-XIQUE
INTERVENÇÃO POÉTICA: OLIVEIRA
LOCAL: CIEJA CAMPO LIMPO
17/09 - 14H
CONVERSA LITERÁRIA: A LITERATURA COMO DIREITO
PALESTRANTES: BEL SANTOS MAYER- BRUNINHO SOUZA
Como podemos considerar o direito à literatura como direito humano, ao lado dos direitos individuais e sociais? A partir de sua experiência pessoal  como formadora da rede LiteraSampa e articuladora da Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias – RNBC  - Bel Santos Mayer destaca o significado e importância de ações de difusão da leitura e literatura para as populações periféricas. Bruno Souza, jovem gestor da Biblioteca Comunitária Caminhos da Leitura, de Parelheiros, conversa sobre os desafios e soluções construídas por essas iniciativas.

Filme: Número e Série. 14´52´´. Direção: Jéssica Queiroz, 2017. Baseado em conto de Rodrigo Ciríaco.

MEDIAÇÃO: CRIS LIMA
INTERVENÇÃO POÉTICA: ALINE ANAYA
LOCAL: CEU CAMPO LIMPO
17/09 - 19H
CONVERSA LITERÁRIA : MULHERES EM DIÁSPORA: XENOFOBIA, MIGRAÇÃO E A SUAS  LUTAS
COM SORAYA MISLEH E HORTENSE MBUYI
Esta conversa pretende traçar um panorama das diversas situações vivenciadas por imigrantes,  refugiados e suas lutas. Duas mulheres que aqui vivem,  uma Congolesa e uma Palestina,  fazem sua militância em torno dos direitos das mulheres, democracia e direitos humanos, focados no respeito aos imigrantes e refugiados. Haverá uma apresentação da Revista Feminista Amazonas produzida por Helena Silvestre sobre as questões feministas.

Filme: Maria. 12´. Direção: Vinícius Campos, 2018. Baseado em conto de Conceição Evaristo.

MEDIAÇÃO: HELENA SILVESTRE
INTERVENÇÃO POÉTICA: FABIANA TEIXEIRA
INTERVENÇÃO POÉTICA: ZILDA PAIVA
LOCAL: ESPAÇO UNIÃO AKASHA
18/09 - 14H
TED´S – LIVRO, POESIA E SUAS TRAJETÓRIAS DE AUTORES (DE ONDE VOCÊ VEM?)
COM RAÍSSA CORSO, DJALMA PEREIRA E ZÁ LACERDA
Poetas que surgiram no Sarau do Binho contam suas trajetórias de encontro com a produção literária.

Filme: Cimento Armado. 5´. Produção do coletivo ____ sob orientação de Peu Pereira, 2018.

INTERVENÇÃO POÉTICA: JOHNNY MUTCHO
POCKET SHOW: MARCELO LIMA
LOCAL: CASA DE CULTURA DO CAMPO LIMPO
18/09 - 19H30
CONVERSA LITERÁRIA: RELATO DE UMA VIDA - DESAFIOS DA EDUCAÇÃO E DO LETRAMENTO NO TERRITÓRIO ZONA SUL
PALESTRANTE:  EDA LUIZ
O território da Zona Sul é marcado pela participação das mulheres no trabalho, na educação, na produção e atuação cultural. Nesta mesa, Eda Luiz , diretora do CIEJA por vinte anos, homenageada na IV FELIZS,  conta a história de seu trabalho no Capão Redondo e suas impressões na área de educação.

Videopoesias: “Reticências”. Poesia de Zá Lacerda. Realização: Peu Pereira. 5´57. “Sonho do Cacique”. Poesia de Djalma Pereira. Realização: Rogério Pixote. 2´ P24´´. “Onde a tristeza não tem vez”. Poesia de Pedro Lucas Lima. Realização: JC Sena. 1´56´´.

MEDIAÇÃO: SOLANGE AMORIM
INTERVENÇÃO POÉTICA/ MUSICAL:  PAULA DA PAZ
LOCAL: SESC CAMPO LIMPO
19/09 -10H
TEATRO : AUTO DO NEGRINHO - A PARTIR DE 14 ANOS
COM CLEYDSON CATARINA, UBERÊ GUELÉ, SANDRO LIMA, RAFAEL FAZION
A história do menino escravizado maltratado por seu proprietário é recriada pelo autor Cleydson Catarina com elementos cenográficos e dramatúrgicos das festas populares do Brasil.

INTERVENÇÃO POÉTICA: PEDRO LUCAS
LOCAL: ESPAÇO CLARIÔ DE TEATRO
19/09 - 14H
OFICINA DE PRODUÇÃO – CRIAÇÃO DE TEXTOS POÉTICOS – MARIA VILANI
Maria Vilani, filósofa, professora, escritora e agitadora cultural do Grajaú promove oficina explorando o fazer poético.

INTERVENÇÃO POÉTICA: TULA PILAR
LOCAL: BIBLIOTECA INFANTOJUVENIL MARCOS REY– PISO SUPERIOR
19/09 - 14H
OFICINA DE MEDIAÇÃO DE LEITURA – MARA ESTEVES
A educadora Mara Esteves, gestora da Biblioteca Comunitária Djeanne Firmino, aborda a mediação de leitura como prática de aproximação e formação de leitores e seus recursos.

INTERVENÇÃO POÉTICA: TATI CANDEIA
LOCAL: BIBLIOTECA INFANTOJUVENIL MARCOS REY – PISO INFERIOR
19/09 -18H
AUDIOVISUAL E LITERATURA: FILME: PÉ NO TERREIRO - BABA MUXIALA E A ESTRADA DA MACUMBA (5´31) - PRODUÇÃO: CINEBECOS - 2018
PALESTRANTE MARCOS FERREIRA SANTOS
Conversa Literária:  Cultura, trajetórias e narrativas

O professor livre-docente da Faculdade de Educação da USP e pesquisador do imaginário, Marcos Ferreira Santos, conversa com Binho Padial sobre o caráter mestiço das trajetórias dos povos e suas convergências. Essa conversa dialoga com o tema da IV FELIZS que este ano levanta o questionamento “De onde você vem?” em todas suas atividades.

Audiovisual e Literatura: Filme: Pé no Terreiro - Baba Muxiala e a Estrada da Macumba (5´31)

Produção: Cinebecos - 2018

MEDIAÇÃO: BINHO (ROBINSON PADIAL)
INTERVENÇÃO POÉTICA: DJALMA PEREIRA
LOCAL: SESC CAMPO LIMPO
20/09 - 18H
SARAU POESIA DE TODO CANTO
APRESENTAÇÃO DE  BINHO PADIAL
Segunda edição dessa celebração festiva da cultura, do encontro de poetas de diferentes estados brasileiros e suas produções singulares. Os poetas convidados são figuras de referência locais que têm trabalhos relacionados a literatura. A atividade propõe este rico intercâmbio para demonstrar a diversidade da poesia.

CONVIDADOS DE SÃO PAULO:
Jesuana Prado- SP, Luan Luando-SP, Dugueto Shabazz-SP , Dinha-SP , Eveline Sin -SP, Márcio Batista -SP e Edgar Pererê-SP

CONVIDADOS DE OUTROS ESTADOS:
 Robert Guillot – Itabuna-BA, Eliseu Braga – Itacoã-RO,  Michelle Ferret -Natal-RN, Letícia Brito- Rio de Janeiro - RJ e Márcia Kambeba -Alto Solimões-AM

LOCAL: SESC CAMPO LIMPO
21/09 - 10H
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COM A CIA CHAVEIROEIRO
A Cia Chaveiroeiro convida o público para um encantador passeio pela diáspora das culturas africanas, apresentando contos de sabedoria, transmitidos de geração para geração milenarmente. Dialogando com a cultura afro-brasileira e tradição de vários países, dentre eles, Angola, Zimbábue, Gana e Nigéria. Amanda Ribeiro e Mafuane Oliveira utilizam o “Chaveiroeiro Mágico”, um instrumento especial que abre as portas das histórias, cantigas, instrumentos e brincadeiras tradicionais, inspirados por estas tradições.  Público: Livre – Atividade Intergeracional

LOCAL: BLOQUINHO DO BRINCAR
21/09 - 13H
CONVERSA LITERÁRIA  – DIVERGÊNCIA DE OPINIÃO OU QUEBRA DE PRINCÍPIOS? COMO (NÃO) NOS AFETAMOS?
PALESTRANTE MARIA RITA KEHL
Agressões, decisões que violam direitos básicos da pessoa e outras manifestações, especialmente via redes sociais, têm sido encaradas como "normais”. Como nos colocarmos na situação de empatia em relação ao outro quando essa atitude se opõe aos interesses do mercado ou aos totalitarismos políticos? Quais os efeitos sobre nós, comunidades humanas, especialmente as que vivem e trabalham nas periferias?

MEDIAÇÃO: BINHO (ROBINSON PADIAL)
POCKET SHOW: RENATO PESSOA
INTERVENÇÃO POÉTICA: NICOLY SOARES
LOCAL: AUDITÓRIO DA UNIVERSIDADE ANHANGUERA - CAMPO LIMPO.
PRAÇA DO CAMPO LIMPO
 22.09

PALCO PRINCIPAL
11H – ABERTURA – CORTEJO COM O GRUPO ARRASTA – LATA (PROJETO ARRASTÃO)
11H30 – TINKUS WAYNA LISOS – FRATERNIDADE BOLIVIANA DE MÚSICAS E DANÇAS TRADICIONAIS
12H30 – TRIBO SONORO
13H – CIRCO MAMULENGO DA FOLIA
13H30 – GUMBOOT DANCE BRASIL- YEBO
16H30– MARCELO JENECI- PARTICIPAÇÃO ESPECIAL CAMILA BRASIL E FERNANDA COIMBRA
17H30 – TRUPE LONA PRETA- CIRCO FUBANGUINHO
18H– RAPAZIADA DO  SAMBA DA VELA
19H – SARAU DA FELIZS
21H30 – CHICO CÉSAR
TENDA LITERÁRIA
12H30 ÀS 14H30
MOSTRA DE AUDIOVISUAL E LITERATURA. PROGRAMAÇÃO:
12H30 : IMAGENS DE UMA VIDA SIMPLES (DANIEL FAGUNDES). (34´38´´);
13H10 : DARA - A PRIMEIRA VEZ QUE FUI AO CÉU (RENATO CÂNDIDO), 18´;
13H30 : NARRADORES - BRASIL QUE NARRA. MUSEU DA PESSOA, 20´26
14H - MARIA (VINÍCIUS CAMPOS). 12
14H30– CONVERSA LITERÁRIA – O PROCESSO CRIATIVO DA ESCRITA E DA LEITURA – COM MARCELINO FREIRE, MILTON HATOUM, GEOVANI MARTINS.
Três gerações de escritores brasileiros se encontram - Milton Hatoum, Marcelino Freire e Geovani Martins conversam sobre o processo de criação literária e as múltiplas possibilidades das palavras, sejam elas escritas, lidas, performatizadas.

INTERVENÇÃO POÉTICA E MEDIAÇÃO: RAÍSSA PADIAL CORSO

MOSTRA DE AUDIOVISUAL E LITERATURA. PROGRAMAÇÃO:
16H45 : NÚMERO E SÉRIE(JÉSSICA QUEIROZ). 14´52.
17H : QUANDO ZUMBI CHEGAR: EDINHO. 5NOMUNDO.8´05´´.
17H15 : PÉ NO TERREIRO : BABA MUXIALA E A ESTRADA DA MACUMBA. PRODUÇÃO CINEBECOS (5´31´´).
17H 25: CIMENTO ARMADO (ANDRESSA MOTA). 5´.
17H30: FERROADA (ADRIANA BARBOSA E BRUNO CASTANHO). 25´.
18H : SANGRIA (LUIZA ROMÃO). 15´.
18H20 : TEAR & POESIA (JOSIEL MEDRADO CANTÃO)
OFICINAS
12H –XILOIDENTIDADE
Marlon Cruz – Tenda das Oficinas
12H30 – MEDIAÇÃO DE LEITURA
Praia Literária - Coletiva Achadouras de Histórias
13H30 – GRAFITE
Mariana Salomão - Tenda das Oficinas
13H30 – COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA
Escola de Notícias– Tenda da Comunicação
14H30 - SONZANDO
Luiz Vitor Maia – Tenda das Oficinas
INTERVENÇÕES
MÚSICA AO PÉ DO OUVIDO - FERNANDA COIMBRA
BICICLOTECA- ISABELA MOHANA
INTERVENÇÃO CIRCENSE– PERNA DE PAU E MALABARES- ANDRÉ SCHULLE
NÚMERO CIRCENSE - ACROBACIA
ESTÁTUA VIVA – DRUMMOND  - SERGINHO POETA
LEITURA SURPRESA- TATI CANDEIA
GRAFITE - CAROLZINHA TEIXEIRA- NAVE MÃE- BETO SILVA- THIAGO CALLE- CRIS ART
INTERVENÇÕES BRINCANTES COM AS CRIANÇAS – BRUNO COQUEIRO
HOMO POETICUS – MARCO MIRA MIRANDA
TEAR & POESIA – BORDADO
POETARÔ- JONAS WORCMAN
ESQUETE TEATRAL PARA ESCULTURA EX-LIBRIS – GRUPO MARIA FUZARCA
ITERVENÇÃO VISUAL PARA ESCULTURA EX-LIBRIS – AUGUSTO CERQUEIRA
INTERVENÇÃO URBANA: MARCO PIANTAN
EXPOSIÇÕES
RAQUEL TRINDADE - PINTURAS E ESCULTURAS
RUTH GUIMARÃES - CAFUÁ PRODUÇÕES
EXPEDICION  DONDE MIRAS - CAMINHADA CULTURAL PELA AMÉRICA LATINA
DECORAÇÃO ARTÍSTICA
DOLE - DEMETRIUS SORGON - MARINHO WINTER

FELIZS, Feira Literária da Zona Sul

A FELIZS, Feira Literária da Zona Sul, nasce de um desejo de reflexão sobre o movimento cultural ao longo dos últimos anos. É preciso aguçar o olhar e a percepção sobre todos esses processos. Isto é, sem dúvida, algo que nos instiga. Temos hoje um panorama pulsante de múltiplas linguagens que vem sendo, em parte, impulsionado pelos saraus nas periferias. Há uma multiplicação de iniciativas e estas reverberam cada dia mais nos mais variados espaços comunitários e culturais.

A Feira é uma tentativa de unir potenciais num único espaço e observar a grandiosidade de propostas que a periferia vem desenvolvendo. Queremos nos ver e fortalecer num processo de sinergia, potencializando as ações individuais conectadas ao processo coletivo. O fazer cotidiano é essencial, mas é saudável um respiro para reflexão: pensar sobre os caminhos, identificar nossa grandeza e nossas dificuldades. Há uma produção intensa que precisa ser divulgada, valorizada, e reconhecida: são estas as premissas iniciais para a criação deste evento.

Clique aqui para ver a programação completa da felizs


A feira foi idealizada pelo Sarau do Binho e, como diz o poeta : “Uma andorinha só não faz verão, mas pode acordar o bando todo.”

É tempo de acordar outras andorinhas, formar bandos e construir um universo cultural que permita cada vez mais o acesso e a difusão dos bens culturais!

Saiu a Programação da FELIZS, Feira Literária da Zona Sul

A FELIZS, Feira Literária da Zona Sul, nasce de um desejo de reflexão sobre o movimento cultural ao longo dos últimos anos. É preciso aguçar o olhar e a percepção sobre todos esses processos. Isto é, sem dúvida, algo que nos instiga. Temos hoje um panorama pulsante de múltiplas linguagens que vem sendo, em parte, impulsionado pelos saraus nas periferias. Há uma multiplicação de iniciativas e estas reverberam cada dia mais nos mais variados espaços comunitários e culturais.

A Feira é uma tentativa de unir potenciais num único espaço e observar a grandiosidade de propostas que a periferia vem desenvolvendo. Queremos nos ver e fortalecer num processo de sinergia, potencializando as ações individuais conectadas ao processo coletivo. O fazer cotidiano é essencial, mas é saudável um respiro para reflexão: pensar sobre os caminhos, identificar nossa grandeza e nossas dificuldades. Há uma produção intensa que precisa ser divulgada, valorizada, e reconhecida: são estas as premissas iniciais para a criação deste evento.

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A feira foi idealizada pelo Sarau do Binho e, como diz o poeta : “Uma andorinha só não faz verão, mas pode acordar o bando todo.”

É tempo de acordar outras andorinhas, formar bandos e construir um universo cultural que permita cada vez mais o acesso e a difusão dos bens culturais!

terça-feira, 4 de setembro de 2018

A Literatura está fora da escola

As primeiras leituras de uma criança não são feitas no âmbito escolar, isto é, sob o crivo da academia ou sob  sua tutela, mas a chancela da escola, quando esse pequeno Ser inicia a educação formal, mitiga o desejo do jovem, sobretudo periférico, de desenvolver-se como leitor das relações humanas, visto que a literatura lhe é apresentada como mero instrumento de prova, imediatista e nada crítico, tornando-se uma atividade enfadonha, penosa e punitiva, pois a única finalidade que os professores lhe confere é como resolução de testes objetivos, cujas respostas estão prontas e não dialogam com a realidade do indivíduo Pós-moderno: que está imerso na fragmentação estilística dos novos tempos e perdido pela torrente de informações que lhe chegam pelos ágeis dispositivos celulares, os quais aceleram a sensação de que a vida é efêmera. Por isso, mais do que nunca – ainda que não perceba –, vive pelos prazeres imediatos.

Embora seja estranho afirmar que a literatura esteja fora da escola, visto que esta parece que sempre teve os direitos legais sobre os cânones da escrita, seja nacional seja estrangeira (se bem que esta última se tornou mais abrangente – contemplando, também, a angolana e a moçambicana – nos últimos cinco ou seis anos), não há erro nesta declaração, haja vista o aluno que não se interessa pelo estudo formal dos textos literários, é o mesmo jovem que lê nas músicas que ouve, nas redes sociais pelas quais se relaciona com seus iguais e nos Best sellers que devora, histórias em que haja identificação com seu íntimo, isto é, interessam-lhe mais do que um Machado ou uma Clarice. Além disso, as aulas de “leitura” são relegadas apenas a uma única disciplina, Língua portuguesa. Isso é mais do que errado, já que qualquer escritor(a), desde os tempos mais remotos da escrita, escreveu para relacionar-se com o mundo, ora confrontando-o ora compartilhando dos seus mistérios, a leitura é muito mais do que livros, o professor sabe disso, porém o seu aluno ainda não percebeu; e não percebeu porque nega a Literatura da escola, porque ela representa uma instituição na qual ele, o aluno, não se reconhece, não se identifica nem se sente representado.

A propósito, vale mencionar um trecho do poema “Cabernet Sauvignon”, de Jenyffer Nascimento para ressaltar o quanto a literatura está fora dos muros da escola:


Um dia você vai me convidar pra jantar
Na sua casa nova,
À mesa eu, você e sua esposa.
Abriremos um Merlot argentino
Brindaremos aos novos tempos,
À família, à felicidade!

Será uma conversa animada,
De sorrisos sinceros.
E quando não estivermos mais sóbrios
Virão à tona as lembranças
De um passado vulcânico,
Entre militância, sexo e liberdade.

[...]

Talvez sua esposa não goste do enredo da conversa
Dos signos expostos nas entrelinhas
[...]

Então mudaremos de assunto
Discutindo um tema pelego qualquer,
[...]

Eu serei sensata,
Direi que está tarde, que preciso ir.
O casal gentilmente me conduzirá até a porta
Dizendo pra voltar outras vezes,
Numa despedida fria, tipicamente paulistana.

Entre tudo que eu poderia dizer
E não disse...
Prefiro Cabernet Sauvignon chileno.

[...]


Esse poema é resultado das vivências de uma mulher que enxerga e reconhece as periferias de São Paulo e, de quebrada em quebrada, rompe os paradigmas de violência e comoção relegados ao povo preto paulistano; e esses versos, por serem mais próximos da realidade dos alunos, rompem com os limites gráficos podendo, até, fazer verter lágrimas do leitor, com o qual se identifica e espelha (semelhante às leituras feitas pelos jovens novecentistas brasileiros com ânsia de uma vida mais livre e mais subjetiva a fim de aliviar suas angústias como filhos de uma nação que ainda se descobria assim – numa visão burguesa, claro, pois a comparação é estritamente literária). Haja vista os saraus estão repletos de poetas jovens, talentosos e perseverantes no versejar das suas angústias, sonhos, conquistas e, sobretudo, suas rotinas. São esses mesmos jovens que refletem o fracasso da escola, embora nos Slams e demais batalhas de rimas demonstrem consciência e destreza por meio de versos ritmados, líricos, híbridos, por meio dos quais compartilham da visão de mundo que a escola, limitada, não compreende. Esse entrave enfraquece a literatura por pura falta de diálogo entre os envolvidos.

Todavia o primeiro cuidado ao se trabalhar com um texto legitimamente marginal (periférico) como o de Jenyffer Nascimento na escola é o de não esquadrinhá-lo, situando-o na pós-modernidade ou em qualquer outra época literária, pois afasta o aluno da necessária análise das relações sociais com as quais ele poderá se identificar; e que são tratadas de modo tão leve pela autora. Ademais, esse poema suscita questionar: o quão o meio social influencia a obra de arte?

A essa pergunta, Antonio Cândido dá a seguinte resposta:

Digamos que ela deve ser imediatamente completada por outra: qual a influência exercida pela obra de arte sobre o meio?

Dito de outra forma, ao se debruçar sobre textos de autores periféricos  cabe refletir sobre até que ponto a arte é uma forma de expressão da sociedade. Ademais, se a sociedade não se perceber como constituinte do escopo literário em análise, visto que as aulas de literatura unicamente descrevem (de modo unilateral) os elementos formais constituintes do texto para classificá-lo, a literatura só ficará mais afastada dos bancos escolares.

Por outro lado, os professores, no ensino médio – por exemplo –, julgam que seus alunos já sejam iniciados na leitura literária, e deveriam, desconsiderando o fato de que esses jovens não leem mais de meia página de um texto o qual, geralmente, é um fragmento usado para contextualizar exercícios de interpretação textual ou análise sintática. Até mesmo o estudo da poesia fica comprometido nesse cenário, pois a falta de prática na leitura torna o aluno incapaz de assimilar metáforas simples (as complexas são totalmente ignoradas). Esse pode ser o pensamento de um professor médio do ensino público brasileiro acreditando que o aluno deva se interessar pela leitura dos clássicos simplesmente porque estes são exigidos pelos concursos nacionais, sobretudo nos vestibulares das universidades mais concorridas do país.

Nos versos do poema “Juventude negra”, Akins Kintê passa a visão de como comungar a poesia é importante para o fortalecimento do ser e de tudo o que está a sua volta, e o que está à volta não está dentro da escola, não se apreende sentado num espaço que não lhe cabe. No entanto, esse poeta não chama o jovem a pegar em armas, tão pouco a militar, mas a libertar-se dos grilhões maquiados nas políticas que não lhe representam:

[...]
Juventude negra de atitude
estudando, é ficar ligeiro com a rota
que nos quer faz uma cota
depois é ir pra briga, lutar pela liberdade
o que fizemos por Serra da Barriga
o dobro façamos por nossa comunidade

Se não rola, relaxa marcha e siga
façamos de nosso coração
um quilombo uma nação
uma Serra da Barriga

Vale destacar que Kintê sugere a luta e aconselha o jovem para se libertar, mas sem que este tenha a obrigação de sacrificar-se por alguém a não ser por si próprio, visto que o sentimento de pertencimento é de dentro para fora, nunca o contrário. Isso a escola ainda não percebeu, por isso sofre com os números do Saeb, por exemplo, quando escancaram os parcos resultados dos alunos nos anos finais do ensino regular.

Por fim, Akins Kintê, Jenyffer Nascimento e tantos outros autores periféricos representam a literatura que está fora da escola, não por não ter suas poéticas estudadas e seladas pela Academia, mas por serem exemplos de que o trabalho da escola na formação do leitor literário não tem sido satisfatório, porque a juventude constantemente tem se mostrado resistente às aulas na mesma proporção que tem estado mais inclinada à arte fora delas.