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Transformação

Transformação
Entrevista com poetas

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Crônica de quinta: Acabou a luz

Acabou a luz! Esta é a constatação geral quando o breu toma conta do horário nobre da vida paulistana e enquanto meus filhos contemplam a TV inoperante 


Eu aparo as vacilantes águas que inconvenientemente invadem a casa pelas frestas abertas no laranja dos blocos pobremente assentados e negligentemente sem reboco.

Acabados os baldes, utensílios da cozinha, como um vasilhame que outrora comportou o sorvete napolitano tão apreciado pela família, aparavam a água. Vez ou outra eu, em grande torcida, manuseava os interruptores na esperança de prontamente a luz voltar, debalde.

Frustrado eu mandava as crianças desconectarem a televisão da tomada. "Mas como saberemos que a luz voltou?" Indignadas retrucavam.

Realmente, a luz naquele momento era mais importante do que a água que invadia os cômodos. Curiosamente o único que não tem goteiras seria o que talvez ninguém se importasse se tivesse, o banheiro. Mas nós estávamos acostumados, pois não era o primeiro verão que passávamos assim. Diferente dos recém-chegados moradores do barraco ao lado que se desesperavam ao levantar os móveis para protegê-los das implacáveis águas.

"A luz voltou! Graças a Deus!" em uníssono os moradores do assentamento do Arariba vibraram.

E volta rádio, e volta a rede social, e volta a televisão para todos saberem dos acontecimentos e abafarem o tilintar das goteiras.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

A “Quebrada” é um espaço para o exercício da tolerância religiosa

Embora seja negado pelas camadas mais conservadoras da sociedade, a periferia é o espaço mais plural e tolerante das cidades. A razão para isso não é o convívio amigável entre os “direrentes”, mas o compartilhamento forçado dos espaços públicos por àqueles que, sem opção, ocupam os loteamentos precários nos extremos das metrópoles brasileiras.


Em São Paulo, por exemplo, desde meados dos anos 1970 os operários do país têm se aglomerado nas construções rudimentares sem reboco nem asfalto; sem saneamento básico ou eletricidade, afim de alimentar seus sonhos e filhos. No entanto, esse Brasil permaneceu por muito tempo à margem das pautas públicas de fomento à cultura, educação e lazer, isto é, políticas favoráveis ao pleno desenvolvimento do indivíduo e do cidadão, ainda que na “quebrada”. Por isso que a Periferia teve de encontrar formas de autopromover-se para sair do paradigma de abandono e exclusão no qual estava inserida desde a sua fundação. Então as igrejas evangélicas e os terreiros se tornaram verdadeiros espaços de discussão política e social, além de organização cidadã, já que ninguém mais se propôs a dialogar sobre esses assuntos tão fundamentais para a inserção do pobre na gestão da cidade.
Além dos espaços para cultos religiosos, os bares também possuem grande destaque na formação da periferia, porém merecem um artigo apenas sobre eles devido ao tamanho do seu alcance e importância no sustento e crescimento dos bairros periféricos da capital paulista.
O impacto positivo gerado na favela pela vontade de acomodar a todos favorece a integração entre pessoas cujas crenças são diversas. Assim,  seja tirando terra para aplainar o terreno seja batendo a laje que protegerá os sonhos da casa conquistada a duras penas, os indivíduos se organizam solidariamente, da porta para fora e da porta para dentro. A recompensa é o sorriso, o churrasco na laje, o amigo, a família que passa a ter um CEP (tão importante para viver com dignidade em São Paulo). A Periferia tem dessas coisas...

Por outro lado, recentemente houve certa desconexão da periferia consigo mesma desde a ascensão da tal “nova classe média” sem consciência de classe ou de lugar de fala ataca as minorias sociais às quais não se percebe pertencente, como tem atacado os terreiros dos povos originais e as religiões de matriz africana ( seus cultos, trajes e cabelos, ou seja, sua cultura). Isso talvez seja o efeito do baile que a favela tem levado da política especulatória dos noticiários inflamados que exaure as energias do brasileiro periférico.

No entanto, a produção de articuladores culturais da periferia tem resgatado a coletividade inata do ser humano por meio de ações que promovem uma reconexão com os diferentes agentes que compõem a “quebrada” paulistana num processo de reconstrução da ancestralidade, inclusive, da própria periferia, a qual se consolidou como um espaço de crescimento solidário e positivo no enfrentamento da isenção do poder público e dos malefícios do crime.

Por essa razão que as favelas, hoje, representam um excelente lugar para se discutir e propor reflexão sobre tolerância religiosa, porque no comungar do espaço, das agruras e dos sonhos dos munícipes periféricos é que se encontra um lugar comum, mesmo que ainda haja um forte ressentimento da favela como lugar transitório, logo, pouco cuidado.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Transformação com Sergio Vaz

+ Como a poesia surgiu na sua vida?
Sempre fui leitor, mas não gostava de poesia porque achava poesia uma linguagem difícil, mas através da música MPB descobri as metáforas e vi que poesia também era uma arma de defesa e ataque, ideológicamente falando. Descobri e agrças ao Hip Hop e ao livro Quarto de despejo de Carolina de Jesus poderia falar da nosa quebrada.

+ Como você era antes da poesia?
Sempre gostei de ler, influenciado pelo meu pai, mas como todo garoto de periferia queria ser jogador de futebol. Sempre fui ligado as artes, mas sempre como consumidor. Sou formado nos bailes de black music nos anos 70 e início dos anos 80. Bailinhos e tal.

+ Quem você é depois dela?
Como pessoa me sinto melhor, mas útil. Sou mais um tentando colocar o polegar na história através da poesia, da cultura. Como poeta sinto que minhas palavras ajudam a entender o mundo, e a mim também. Só isso.





POESIA

Sabotage (O Invasor)

Mauro
Era um negro de asas.
Um pássaro
Com os pés no chão.
Som de ébano
Com pele de couro,
O mouro fez ninho no Canão.
O passado,
Que o futuro queria
Escrito em carvão,
Deixou de ser pó
Pra ser pão,
Ao se viciar em poesia.
O poeta
De plumas negras
E voz de pedra
Cravou seu canto
Preto e branco
Nas vidraças
Do mundo colorido.
Filho banto
Em carne e carcaça
Serviu a taça
Com vidro moído
Aos traidores da raça.
Navegante
De mares insolentes
Sua bússola
Apontava sempre para a periferia.
A rima era o rumo
O remo da sina.
No ar,
Como fumaça de fumo
E vermelha retina,
Era frio
Era quente,
Mas nunca banho-maria.
Um dia
Num voo curto
Depois de uma longa metragem
Um disparo sem rosto
Uma bala sem gosto
Calou o personagem.
Diante disso
E sem nos esperar
Desfez o compromisso
Seguiu de viagem
E foi cantar em outro lugar...
Num bom lugar.

SERGIO VAZ

*do livro "Colecionador de pedras" Global Editora

sábado, 25 de agosto de 2018

Transformação com Jacquinha Nogueira

+ Como a poesia surgiu na sua vida?
A poesia sempre esteve presente na minha vida seja pela curiosidade em folhear ainda na infância os livros de minha mãe, ouvir as histórias de minha avó materna e dos mais velhos, pela viagem e apreciação com as palavras e letras de músicas ou pela forma subjetiva de falar de mim mesma para outros já que sempre me neguei a partilhar minhas angústias.  A poesia sempre esteve ali na minha fala e anunciava-se naturalmente em algumas conversas. Até o dia que por não partilhar minhas dores minha mãe disse escreve e depois rasga, mas eu nunca rasguei.

+ Como você era antes da poesia?
Eu era uma voz sufocada no peito, com muitos versos a fim de caminharem por aí. Eu era uma fuga de mim mesma e dos meus olhares sobre o mundo, pessoas e sentimentos. Eu era o que me negava ser, até que me rendi aos versos superando a dor e a timidez de escrevê-los e me permitindo conhecer o lado encantador, árduo, trabalhoso, mas indescritível , saboroso e libertador que é escrever, torna-se poesia.

+ Quem você é depois dela?
 Há um micropoema meu que traduz exatamente esse sentimento. Do verso ela fez seu grito mais forte e a parte mais bonita de si. A poesia hoje é tudo  em dia na minha vida. É ela que vêm regendo meu mundo, meus dias e caminhos desde 2014. Não há um passo que eu dê sem a magnifica presença de respira-la na minha vida, me descobrir uma mulher inteira, liberta e mais forte sem perder a delicadeza no grito dos versos. Hoje sou a professora-poeta, a organizadora de um sarau na minha cidade e de intervenções em sala de aula com saraus e uma das vozes que vêm ecoando fortemente pelo recôncavo baiano e convocando ao voo várias outras mulheres. Hoje eu sou o melhor de mim graças à poesia.



POESIA

Crespo
Nada de bombril!
Meu cabelo não é esponja de aço
É crespo, moço!!!
É crespo, moça !!!
Não custa falar
Aprenda a nomear, a respeitar
A minha diferença da sua
Os meus cachinhos miudinhos, enroladinhos
da raiz as pontas
Crescendo pro alto, volumoso e hidratado
Enquanto você fica aí o julgando de ressecado,
Apelidando de duro e descendo o esculacho
No jato d’água ela escorre e deixa meus cachinhos mais amostrados
Quando seca ele é pura beleza no estilo armado
Olhando no espelho, moço
Olhando no espelho, moça
Meu black reflete minha identidade
Mulher naturalmente bela
sem a necessidade constante
de uma maquiagem.   
    (Jacquinha Nogueira)

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Sarau Verso em versos

Sarau do Verso em versos
Quando: 3 em 3 meses
Quanto: entrada é gratuita
Onde: Agencia Solano Trindade - Rua Batista Crespo 105 - Vila Pirajussara
Ponto de referência Terminal Campo Limpo

Transformação com Michele Santos

+ Como a poesia surgiu na sua vida?
Com olhar o mundo por um filtro que eu tinha desde muito pequena, mas que depois materializou-se em palavra.

+ Como você era antes da poesia?
Posso dizer depois de assumir que faço poesia...porque elas já existiam antes que o mundo soubesse que eu as cometia: era a mesma, mais nova e sem a alcunha de poeta.

+ Quem você é depois dela?
Agora é que são elas: posso dizer de um “antes e depois da poesia” em falando da cena dos saraus, dos livros independentes, dos slams, de conviver com outros poetas contemporâneos, quando a palavra tornou-se ação e movimento – e é aí que a coisa muda de figura. Estar nesse rolê legitimou minha escrita, que considerava antes meros devaneios, me fez desenvolver um trabalho paralelo do qual me orgulho e para o qual me dedico, e me proveu de coragem para escrever como ofício, essa paixão maior. Sem a qual me desconheço: sou toda palavra.

 


POESIA


ALVENARIA 

A mulher forte 
tem colunas construídas com vigas 
de ovário. tem os dedos em pregos 
o intestino azedo a cara fechada 
a racha aberta 

em se aprofundando em 
ela. vai encontrar os pavimentos 
em ruínas. a coluna em frangalhos
um choro ruindo sobre seus tijolos 
de teta e anca. esses fundamentos 
frágeis por sobre a imagem 

[da mulher forte 

e a mulher chora doída 
sua força cansada 
de parecer.

Michele Santos

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Transformação com Dona Eliane

Como a poesia  surgiu na minha vida?
Sempre gostei de escrever mais com o sofrimento de ter meu filho preso Inocentemente fiquei revoltada e a mente começou a flori sobre acontecimentos triste em minha vida

Como você era antes da poesia. ?
Calada reservada so observava tinha receio de alguns lugares tipo Sarau

Quem você é depois da poesia?
Precisava falar gritar expressar o que sentia e conheci o Sarau Verso em versos um lugar maravilhoso cheio de vida.  Conheci meu outro lado da Felicidade que é poder falar e fazer poesia



POESIA

Tudo molhando
Nossa, quando penso em você
Minha vagina se abre
Sinto tudo molhando
Um tesão chegando
Algo tão gostoso
Que hoje vou te mostrar
Como fazer uma vagina molhar
Os peitos vou pegar
Nos bicos, os dedos deslizar
Começo a imaginar
O corpo movimentar
A mãos na vagina começo
A passar
O dedo a roçar
Começo a penetrar
Ele mexe sem parar
Olha aqui, vem ver
Tô começando a
Gozar

Eliane Souza

Mais poesias de Dona Eliane CLIQUE AQUI

Transformação com Melvin Santhana

Como a poesia surgiu na sua vida?
A poesia surgiu em minha vida no período escolar (ensino médio);

Como você era antes da poesia?
Incentivado pelos meus familiares sempre tive uma boa relação com as diversas formas de narrativa, entretanto, na atividade como compositor, a poesia passou a fazer sentido na minha construção contextual artística;

Quem você é depois dela?
Um ser artístico/político/lúdico.

POESIA

Nascimento 
"A escravidão virou inservidão salarial
Da saudade chão, brotou um banzo'' transcontinental"

Nasce mais 1, nascem 2, nascem 3
nasce em todo lugar, nasce um príncipe, um rei
nasce o escravo da lei
nasce a mãe, nasce a filha de quem não nasceu pra chorar
nasce o pai
nasce o filho de santo gerado num ventre livre
que descansa e desperta quando nasce o sol
nasce o espirito santo pra salvar nossa pele
nasce a chaga da plebe, é mais um no futebol
pra tentar, prosseguir, despontar, se iludir
nem sonhar, desistir nem pensar
Refrão
Nascimento e dor, o grito chama a alma
pra realidade crua desse corpo nu
é muito louco, é mó sufoco
viver um dia após o outro nesse mundo cão
É difícil pra gente que se divide
de viver num país que a gente nunca foi livre
quando o livro da gente não vai pra escola
uma história recente, que a minha alma ainda chora
me ignora, eu sei que me ignora
a memória da gente vai se encontrar outra hora
é no espelho, é na roupa, é no seu neto, senhora
Na feijoada da quarta ao cafezinho na mesa
o caldo de cana gelado com pastel da feira
é na batida pulsante, do rock, do funk
no samba do chico, no tom do João
eu quero que você cante pra mim
dance pra mim
veja o pandeiro imaginário rodando
é assim que a gente se sente é o preto
é o ausente, é a ausência de cor
é o preto na carne, é a dor
Refrão
Nascimento e dor, o grito chama a alma
pra realidade crua desse corpo nu
é muito louco, é mo sufoco
viver um dia após o outro nesse mundo cão

"Ao olhar do tira e a dama que admira, to na mira sempre
como é curioso"
Bastardos inglórios, o cheiro de terra, menores na frente e
atrás um monte de velas
pretas e pretos nas telas, bicas e becos, favelas
que nascem nas pistas e morrem nos fundos das celas

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Transformação com Jairo Periafricania

+ Como a poesia surgiu na sua vida?
A poesia surgiu em minha vida quando a muito tempo atrás o Binho me chamou pra um sarau que ele organizava ali no bar dele ao lado da antiga Uniban. Eu não tinha o hábito da escrita nem da leitura até então.
Fiz uma poesia do Sergio Vaz que aliás tbm não o conhecia. Ganhei uma camiseta de presente de um amigo Ronaldo o nome dele que tinha um poema do Sergio Vaz, recitei e dei os créditos ao autor e pra minha surpresa o Sergio estava lá e a partir daí ouvindo os poetas com seus poemas autorais despertou o interesse em compor tbm... nesse mesmo dia fui convidado pra conhecer o sarau da Cooperifa e não sai mais e escrevo desde então.

+ Como você era antes da poesia?
Antes da poesia eu levava a vida de uma forma totalmente diferente de hoje com certeza.
Taxista de ofício eu sempre ali no meu dia a dia nas idas e vindas, conversando com os amigos sobre política, futebol, trabalho, etc... com todo respeito eu era totalmente alienado, até porque não lia e só enxergava a um palmo de distância, eu não tinha noção de nada... ouvindo os poetas fiquei interessado em personagens que votavam em seus textos e fui pesquisar, conversar... hoje olhando antes da poesia da literatura eu vejo o quanto estava moscando, é tipo como se eu vivesse antes do fogo e depois do fogo... virada drástica.
Hoje qiestiono tudo, antes vinha tudo pronto e eu meio que aceitava...

+ Quem você é depois dela
Depois disso eu estou sempre procurando descobrir, questionando tudo, meus bates papos mudaram, já não abraço certas idéias que vem de todos os lados, de políticos, da imprensa escrita, televisiva, nas redes sociais etc.
Tenho sede por respostas até porque tenho muitas perguntas.
Mano mudou tudo, da água pro vinho é muito louco tudo isso, até acho que por conta dessa mudança minha postura mudou, essas coisas trazem mais responsabilidades, revolta, inquietude, quando você adquire certo discernimento sobre certas situações muda tudo.
Pra finalizar aqui vou reproduzir uma frase, um pensamento que ouvi do Sergio Vaz que aliás disse até de quem é esse pensamento mas não me lembro o nome do autor, é mais ou menos assim:
"NÃO QUERO ACREDITAR SÓ QUERO SABER"

Poesia 

UM POEMA

Insônia loucura um delírio só meu
Insana a caneta desliza... Eu,
TE OFEREÇO UM POEMA...
TE OFEREÇO UM POEMA...

Um poema,
Rasga carne sangra dor brinda vida
cura amor
Tá na multidão que o rap arrasto
Na voz no furor que Racionais canto
Nas paginas dum livro que o poeta eternizo

Nas negras raízes no conto do grio
No canto sagrado que uma tribo entoo
É canta a liberdade pra quem tá confinado
No povo unido caminhando lado a lado

No raro d'javu loucura insensatez
Onde os forte sobrevive os fraco não tem vez
É o ser ou não ser... eis a questão
É respeitar a opção da irmã do irmão

Do jeito que quise bem me que mal me que
No drible na ginga no grito de olé
É pai filho pro espírito é santo
Nos muros becos em todos os cantos

No sorriso no pranto no trago no gole
Na dor no peso da ressaca do porre
Na escrita perdida num velho pergaminho
E agora José? São as pedras no caminho.

Insônia loucura um delírio só meu
Insana a caneta desliza... Eu,
TE OFEREÇO UM POEMA...
TE OFEREÇO UM POEMA

Na imensa solidão daquele na sargeta
Naquele rascunho esquecido na gaveta
Nas entrelinhas no subliminar
Nas metáforas que a vida não cansa de ensinar

No mistério da morte no enigma de marte
Num beijo roubado imitando a arte
Na frase sem crase no verso sem métrica
É Usa abusa da licença poética

Nóis fomo, nois vai, eu vi ela tanto faiz
Sem menos nem mais somos todos iguais
Na prosa a rima na trova o verso
Do nosso jeito simples complexo

Erudito popular entre o bem e o mal
La pra academia é um ser imortal
Aqui a poesia desfila no sarau
Cortejada por amantes etc e tal

Moro na moral é isso memo o papo é reto
Num mundo a parte é o nosso dialeto
A palavra escrita na canção que embala
Hey norma culta, se não entende!
Pisiu! Se cala.

Insônia loucura um delírio só meu
Insana a caneta desliza... Eu,
TE OFEREÇO UM POEMA
TE OFEREÇO UM POEMA

Jairo Periafricania

Transformação com Jô Freitas

+ Como a poesia surgiu na sua vida?
Através do sarau OqueDizemOsUmbigos em 2009 e me apaixonei em escrever e acreditar no que escrevia através de Daniel Marques, que foi e  é meu mestre da poesia.

+ Como você era antes da poesia?
Eu era apenas atriz, mas sentia que faltava algo no qual a poesia me completou
Era uma menina insegura e com medo de expor o que sentia

+ Quem você é depois dela?
Sou atriz, sou poeta, sou cenopoeta, desenvolvi um ciclo de oficina de poesia e cenopoesia, que é quase exclusivo, isso graças à 15 anos de teatro e 8 anos na poesia.
Viajei alguns países com meu trabalho de poesia.
Sou aquilo que sempre gostaria de ser

Insta @jofreitaspoesia
canal no youtube: https://www.youtube.com/channel/UCo--vOTAZo_znENlOwTXYWA

Poesia

Vão
Ele se foi como uma faca afiada que por erro não pode cortar
Se foi em vão, deixou um vão em meu pensamento
Carregou cada pedaço de seu corpo que pousava em mim
Como um dia estranho, nada feliz, nada triste
ele se foi
E desta vez sem deixar a chave escondida no vasinho de flores.
Como eu gostaria que existisse e pudesse transferir o amor que tinha por você, pra primeira pessoa que passasse na rua
Perdi o amor que sempre desejei
Perdi a conchinha de madrugada
Perdi teus dedos frios no meu corpo quente
Tua língua macia desenhando meu corpo
Perdi teu cheiro
Perdi aquele olhar nas manhãs que fazíamos amor
Perdi
Mas ganhei
Ganhei minha voz perdida em teu julgamento
Ganhei a chave das algemas e que não florescia
Ganhei novos olhares
Ganhei muitos desejos
Ganhei a vida que queria ter tido com você
Ganhei eu, novamente

Ganhos e perdas que hoje me fazem entender a vida
Mas que eu posso escolher o que entra e sai deste ciclo sem fim

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Sarau Sapeaçu

Sarau literário e cultural realizado na cidade de Sapeaçu - Ba.
Quando: toda 3ª Domingo de cada mês, às 14h
Quanto: entrada é gratuita
Onde: Rua Firmino Rosalvo Lopes - Parque das Mangueiras
Sapeaçu

Transformação com Emerson Alcalde

Como a poesia surgiu na sua vida?
Surgiu no Sarau da Cooperifa. Descobri o sarau em uma reportagem. Eu já me interessava por textos da literatura marginal conhecia autores de prosa e dramaturgia como Ferréz e Plínio Marcos, mas não conhecia nenhum poeta da qual tivesse me tocado profundamente.
Como você era antes da poesia?

Eu frequentava outros círculos. Com a poesia passei a circular mais pela cidade, conheci muitas pessoas, fiz amizades e parcerias.

Quem você é depois dela?
Hoje me considero um artista depois do descobrimento da poesia. Uma pessoa que escreve poesia, que escuta poesia que lê poesia que pesquisa poesia. Não sou exclusivamente poeta, mas estou poeta e isto é grande.
Blog http://emersonalcalde.blogspot.com

POESIA

Dinonísio no Cu-rriculo

Na sala me embriago com as teorias de Aristóteles
No bar me concentro na lógica de cada gole
Um Engov. Ópis, ops, o telefone, meu irmão Karamazov
Fiquei imóvel como os personagens de Tchecov. Saio do balcão meio maria-mole
Nos corredores os autores ébrios escrevendo sobre o cereal killer com chá, granola, caipora, a espanhola corrobora com Zola é natural naturalista a boemia o fogo paulista
com a coordenação somos épicos-brechtianos
com a atuação; românticos
com a direção; dramáticos
e assim vamos experimentando as bebidas as tomadas as comidas
Viajo nas leituras me dá tontura. No intervalo vou à rua tomado pela loucura de Hera direto pro boteco do Tiozinho Vânia. Já é primavera tempo da colheita da uva e de filosofar na alcova e imaginar as humoristas nuas sem cenários e figurinos representando a Escola de mulheres e maridos de Molière!
Mulher, como tem gente que não gosta, Molière?
Volto a aula pra expurgar o experimento, Evoé!
Pausa longa o aprendiz entra na ponta dos pés, no escuro, ta rolando um vídeo do Tarkovisk e o filme é;
A Infância de Ivan
Um garotinho magrinho e corajoso e hoje um bom vivã
Vou ser realista bebi mais do que eu li. E ninguém vai apagar a memória da cana de Newton porque ta na física e na construção da personagem simbolista o rei e a meretriz. Sonhei que tava indo com a Cléo pra Paris num palco giratório e as satyrianas em volta encenando o bacanal; vinhos; ervas; frutas; massas; Foi surreal. To lendo o Cerejal e vendo gaivotas e do outro lado da praça a Fedra travestida colorida com o Cabral. É uma difusão sexual! Essa usina é uma grande feira tem até freira, loucos, cegos e macumbeiras. Um território multicultural. Que escola pós-moderna que serra e martela, incorporou Dionísio no nosso CUrrículo do bode de rabo de galo é o falo neste pátio aberto vamos, em coro, os duzentos, fazer um brinde ao saudoso Alberto Guzik.
Evoé!!!
Emerson Alcalde

domingo, 19 de agosto de 2018

Transformação com Edinho

Como a poesia chegou na sua vida?
Nossa!Estou apaixonado poesia me faz mudança a vida é consegue influência pensamento pq minha tema não tem como igual outros poesias , isso quero mudar sociedade ensinar como tá difícil a vida comunidade surdo

Como você era antes da poesia? 
Como eu era antes da poesia? Eu não tinha interesse poesia quando abriu slam do corpo e zap  comecei ir ver me inspira muito e descobri muita que posso mostrar sociedade a minha poesia

Como você era depois da poesia?
Sou poeta, artista e militante
Poesia que Limpa a alma e abre a mente

Transformação com Tiago Luiz

Como a poesia chegou na sua vida?

Faço poesia desde meus dezoito anos, ou seja, a dezessete anos. Comecei quando conheci a posse Zumbi dos Palmares em 2002, lá na cidade que nasci em Juiz de Fora, Minas Gerais. Meus primeiros versos foram nas escritas que fiz como Mc, cantando rap e de lá para cá nunca mais parei.

Como você era antes da poesia? 

Antes da poesia, eu não fazia uma reflexão mais apurada dos fatos como hoje. A poesia me trouxe uma visão mais sensível e crítica da realidade por onde trânsito.

Quem é você depois da poesia?

Sou uma pessoa mais sensível, que vê em tudo motivo para escrever, registrar, mostrar o mundo nessa ótica. Não me vejo hoje mais sem viver o universo da poesia, ela me transformou num ser humano pleno, que observa a vida com um olhar além, que sente em tudo poesia.


Contra Redução

Os meninos são função.
Os meninos são fundão.
Para os meninos falta;
Saúde, escola, falta o pão.

Para muitos são bandidos.
Os sonhos dos meninos?
Um caderno, um castelo,
Um abraço um coração..

Cheio de amor, cheio de
compreensão, os meninos
São disposição, mas pros
Meninos  o que sobra é..

A camisa 10, titular na
Lojinha da biqueira...
Antes brincavam de
 Estilingue vulgo atiradeira.

Hoje os meninos são
Contadores, não de histórias.
Contam cifras, num sistema;
Neo liberalista, que explicita.

A vida dos meninos,
Como se fossem terroristas.
Mas o terror é ver jovens,
Virando estatísticas numa
Sociedade que insiste colocar...

Neles a culpa, 500 anos
 Passaram, antes os meninos
Eram filhos dos quilombos.
Hoje são crias dos escombros.

Aprendem a caminhar,
Aprendem a atirar mas
Para os meninos aprender
A amar é um contravenção.

Como já disse o poeta
Coração de vagabundo,
Bate na sola do pé os
Meninos aprenderam..

A dar o Pelé, no capitão!
Não o do Mato, sim o da
Rota que ganha medalha,
De honra quando mata...

O menino numa quebrada
qualquer e bate no peito
Dizendo; mais um
Vagabundo, esse foi morar...

No inferno, mas você já
Se perguntou e os de
Gravata e terno? Merecem
Morar aonde? Se os meninos

São realmente o problema,
Cite pra mim pelo menos
Um envolvido em esquema.
De propina ou do mensalão.

Acorda sangue bom, a corda
Tá no pescoço e  os meninos
Roendo o osso na escuridão,
De um calabouço, sombrio.

No brilho da caneta de ouro,
Do político engravatado, vejo
Vários meninos encarcerados.
E você aí apontado o dedo errado.

Se a redução da maioridade,
Penal resolvesse o problema.
Para político, corrupto e safado,
Uma arena de leões famintos..

Daqueles bem bolados, jogaria
Um por um, para sentirem na pele
O que é viver encarcerado vítima
De uma nação de alienados...

Que fecham os olhos para os
Verdadeiros problemas e
 Passam pano para os verdadeiros
 safados.

sábado, 18 de agosto de 2018

Transformação com Tula Pilar

+ Como a poesia surgiu na sua vida?
Surgiu em um sarau que era do lado de casa em Taboão da Serra. Sempre passava e ficava ouvindo os poetas até  que convidaram a mim e minha filha . mais velha para levar um texto. Nunca mais parei de escrever.

+ Como você era antes da poesia?
Eu era empregada  doméstica, diarista e passadeira de roupas.

+ Quem você é depois dela?
Quem sou hoje, escritora da periferia de São Paulo colaborando com outras mulheres invisibilizadas. Levo a arte e a poesia para nos transformar e nos libertar de muitos rótulos e preconceitos...




POESIA 

Poesia dos pés
Ah, não  terminei... Quem sou hoje, escritora da periferia de São Paulo colaborando com outras mulheres invisibilizadas. Levo a arte e a poesia para nos transformar e nos libertar de muitos rótulos e preconceitos...

Caminho pela cidade
Caminho pelo mundo
Buscando meus desejos
Estive aqui
Estive lá
Estou junto de mim
Volto na infância
Onde os pés libertaram-me
Pelos campos de terra vermelha de Minas Gerais
Corri para brincar de pique-esconde
Pular corda, amarelinha
- Joga bola!
- Olha a pipa no céu junto com arco-íris
- Choveu!
A água da chuva na enxurrada
Nossa roupa cheia de barro
- Xiiii! A mãe vai bater na gente
- Vamos lavar na cachoeira
- Não! Lava em uma lagoa!
- Na água do rio
- Bate os pés! Lava rápido senão afunda!
- Está de noite
- Vamos para casa
- A mãe via chegar!
- Tia, ascende a lamparina
- Machucou o pé de novo, menina!
Pés com eternas marcas de infância
Dormem para descansar
Acordam cedo para trabalhar
Caminham para o centro da cidade
Os pés me levam para onde quero ir…
Para onde posso sonhar!